terça-feira, agosto 16, 2005

Sombra

No último final de semana estive conversando com um velho amigo, Edson Teixeira, o Edinho. Grande figura! Professor e doutor em História, as conversas com Edinho tomam um inevitável rumo erudito. Quando conversarmos tenho a noção da pequenez dos meus conhecimentos. Mas não me escondo. Ao contrário, me arrisco. E graças a essa coragem, aprendo mais. Ganho mais.
Falávamos do inevitável: crise política. Passamos a discutir a falta de habilidade dos políticos ao questionarem as testemunhas das CPIs.
- É incrível! É latente a preocupação apenas de aparecer que cada um dos políticos tem - disse o professor.
Entender o raciocínio do meu amigo estava fácil. Não é preciso ser nenhum letrado para saber que a grande preocupação dos membros das CPIs é mesmo apenas com eles próprios. Pensam somente nas próximas Eleições. Mas Edinho resolveu, como sempre, elevar o nível da conversa: - São todos sombras! - esbravejou, entre um gole de cerveja e um trago no cigarro.
-Sombras? - questionei, nitidamente confuso.
- Sobras, sim! – repetiu, para esmiuçar sua tese: - Não perguntar o que um homem possui, mas o que lhe falta. Isto é sombra. Não indagar de seus sentimentos, mas saber o que ele não teve ocasião de sentir. Sombra. Não se importar com o que ele viveu, mas prestar atenção à vida que não chegou até ele, que se interrompeu a circunstâncias invisíveis, imprevisíveis. Isto tudo é sombra.
Foi só então que entendi o que meu amigo, sempre pensando à frente, queria dizer com aquele papo de sombra.
- É verdade, amigo - disse eu. Para emendar, lembrando Hélio Pelegrino: - A vida é um ofício de luz e trevas.
Realmente, amigo. São todos sombras. Por isso quero sempre estar à margem da escuridão. Quero ser luz, sempre. Nunca sombra. E viva a claridade!