sexta-feira, novembro 11, 2005

“A Greve Começou”

As seis horas da manhã do dia 07 de Novembro de 1988, sindicalistas distribuíam, no interior da Companhia Siderúrgica Nacional (C.S.N.), um panfleto dizendo “A Greve Começou”.
Os trabalhadores rapidamente aderiram e permaneceram no interior da Usina, pois seria uma greve de ocupação. Além da organização do sindicato, os trabalhadores contavam com o apoio da Igreja Católica, das associações de moradores, e dos familiares dos funcionários que se uniram junto à entrada principal apoiando os grevistas.
Desta vez, o sentimento de indignação, a consciência e organização dos trabalhadores, atravessavam os portões da Usina atingindo o coração de toda Volta Redonda que se sentia em greve.
A esperada tropa do Exército, presente em quatro greves anteriores, apareceu no dia seguinte com fuzis, jipes, tanques e caminhões e foi logo mostrando para que veio ocupando o interior da Usina com um grande número de soldados por duas razões: “restabelecer a ordem e preservar o patrimônio”. Como se não bastasse, policiais militares do Rio de Janeiro estavam espalhados por toda cidade como se tivessem procurando criminosos.
No terceiro dia de greve, no final da tarde, um ato público foi marcado para animar os trabalhadores que estavam a três dias dentro da Usina. Seria um momento descontraído, pois um carro de som enviaria recados dos familiares aos grevistas como nesses programas que uma pessoa oferece uma música a outra.
De repente um corre-corre nas ruas, gritos e choros, bombas de gás e a polícia, com muita covardia, batendo na população que era em grande maioria mulheres e crianças. Dentro da Usina um clima de apreensão e muita indignação tomou conta dos trabalhadores, pois viram seus familiares serem espancados e nada podiam fazer.
Os soldados que estavam na C.S.N., estavam nervosos e esperando a ordem de começar o confronto, que fora da Usina já estava generalizado.
Infelizmente, por volta de 20:30h, foram ouvidos tiros de metralhadoras dentro da Usina e a ordem foi dada e 46 companheiros ficaram feridos e 3 foram assassinados depois dessa invasão do Exército.
Os jovens trabalhadores, Carlos Augusto Barroso (19 anos), William Fernandes Leite (23 anos) e Walmir Freitas Monteiro (27 anos), tombaram exercendo seus direitos e reivindicando melhores condições de vida e de trabalho.
Mesmo após os assassinatos e prisões a greve continuou até o dia 23 de novembro. Os trabalhadores conquistaram todas as suas reivindicações, o Exército foi embora e a cidade chorou seus mortos. Mais de 50 mil pessoas estiveram presentes no enterro dos operários assassinados.

Auderi Vicente Santos