terça-feira, novembro 15, 2005

Re-compensa

O projeto de recuperação do acervo documental de São João Marcos, realizado pela prefeitura de Rio Claro, em parceria com a Eletronuclear, foi um dos 21 selecionados para receber o prêmio “Cultura Nota 10”, do Instituto Viva Rio e da secretaria de Cultura do Governo do Estado. O projeto foi destaque entre 269 inscritos e, em 21 de novembro, será premiado em cerimônia que acontece no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro.
Os documentos recuperados contam a história da cidade de São João Marcos, destruída para a construção da Represa de Ribeirão das Lajes. O acervo, que está sendo restaurado na Casa da Cultura do município, mostra o desespero das autoridades locais com o início da construção da represa, e os casos de malária que assolou a cidade, começando pelo distrito de Arrozal do São Sebastião.
Ofícios, atas, moções e comunicados relatam o sofrimento dos moradores. Em um deles, datado de 6 de junho de 1909, a presidência da Câmara Municipal de São João Marcos noticia os fatos ocorridos na cidade para o secretário-geral do Estado do Rio de Janeiro, João Damasceno Ferreira. "A epidemia de febres motivada pela represa da Light começa a surgir dentro da cidade. São 70 enfermos no hospital e, pela marcha da moléstia, me parece que, dentro de poucos dias, ascenderá a 100", diz um trecho do ofício.
Fotografias, mapas e vários objetos originais de São João Marcos podem ser vistos na Casa da Cultura, que mantém o acervo em exposição permanente. São João Marcos é uma das cidades que mais produziram café no Brasil, e chegou a ser considerada a principal cidade do interior do estado do Rio de Janeiro no século XIX.
A única sensação ruim que fica nesta história toda é o fato de a Light, até hoje, nada fez para compensar os danos provocados, principalmente às questões ambientais. O mesmo acontece em Barra do Piraí, onde cerca de um terço do volume do Rio Paraíba do Sul e desviado para abastecer a cidade do Rio de Janeiro. Nada também foi feito para compensar as perdas da população de Barra. E tudo fica por isso. A não ser as lembranças que, eventualmente, são resgatadas. E a Light não ficará bem nem mesmo na História.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Sensacional. Já fiz várias matérias sobre SJMarcos. Fiquei apaixonado por sua história. O irmão do meu sogro nasceu lá e sempre estou mandando o que sai na imprensa (inclusive este seu artigo) para ele. Abraço. Francisco Edson

novembro 15, 2005 3:51 AM  

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