quarta-feira, agosto 30, 2006

De novo...

Quatro meses depois de publicar um alentado informe especial sobre o jornalismo na internet, o semanário britânico The Economist volta à mídia esta semana com a matéria de capa de três páginas compactas "Quem matou o jornal?" e um editorial cujo título repete a pergunta da chamada.
A revista deixa claro de saída, portanto, que o jornal morreu. "É só uma questão de tempo", prevê o editorial, para que os diários "comecem a fechar em grande número". Impossível não lembrar de Mark Twain. Quando o escritor americano leu que tinha falecido, comentou que a notícia era "ligeiramente exagerada".
Mas como o papel aceita tudo, vamos em frente. A Economist traz os principais indicadores dos padecimentos da tradicional mídia impressa diária – leitores, receitas publicitárias, jornalistas empregados e matérias exclusivas em queda, preferência esmagadora do público jovem pela internet, interesse crescente dos anunciantes pelas edições online dos periódicos e – o que seria o tiro de misericórdia – a proliferação explosiva de jornais gratuitos para serem lidos nos metrôs e ônibus.
A tiragem somada dos metros, como são chamados, é da ordem de 28 milhões de exemplares, informa a reportagem – o equivalente, na Europa, a 16% de toda a circulação diária. Até o Le Monde vai lançar um. Para fazer um metro para 100 mil leitores bastam em média 20 jornalistas – nove vezes menos do que para fazer um equivalente pago.
Claro: este último não só traz "n" vezes mais notícias, como se trata de notícias que requerem muito mais apuração e informações que lhe dêem contexto.
A revista cita o sueco Pelle Törnberg, que inventou o gênero, em 1995. "O maior inimigo dos jornais pagos é o tempo", diz ele.
É uma verdade superficial – e a matéria da Economist é mais uma a não ir além da superfície no diagnóstico da crise dada como terminal do jornalismo diário.

Audiências em queda

O texto constata o desencontro entre o que a maioria dos leitores quer e aquilo a que os jornais convencionais dão mais importância. O editor do Zero Hora, de Porto Alegre, Marcelo Rech, conta que o jornal pesquisa diariamente a opinião de 120 leitores. O recado é claro. "Eles geralmente querem mais suplementos como os que temos sobre culinária e moradia", diz o editor, "e menos Hezbollah e terremotos".
Isso bate com os resultados de sondagens em muitos países. "As pessoas gostam de matérias curtas e notícias que lhes sejam relevantes, como relatos locais, esportes, entretenimento, tempo e tráfego", nota a Economist. E cada vez mais recebem isso da internet.
A expressão-chave, que abre todo um campo de indagação, inexplorado pela matéria, é "notícias que lhes sejam relevantes".
Por que "relatos locais, esportes, entretenimento, tempo e tráfego" e não, também ou mais ainda, o Hezbollah do exemplo de Marcelo Rech?
Porque, desde a última década, vem aumentando muito o número de assuntos em relação aos quais uma parcela cada vez maior de pessoas – jovens adultos, especialmente – se pergunta: "E eu com isso?"
A tendência parece irrefutável. Os motivos é que são elas. Uma hipótese a levar em conta é a de que se vive um período de declínio do interesse pela esfera pública e de aumento intenso de interesse pela vida particular.
Isso pode, ou não, ter relação com o "fim da história" do precipitado Francis Fukuyama. Os conflitos ideológicos que marcaram o século 20 e a Guerra Fria bem ou mal como que obrigavam um número de pessoas proporcionalmente maior do que hoje, nos mesmos países, a se informar sobre o proverbial "o que vai pelo mundo".
Política, governo, relações internacionais, economia – que ainda encabeçam a hierarquia do noticiário e das pensatas do jornalão típico – não eram assim de se dar as costas. Mesmo com o advento da televisão, o jornal tradicional continuou a ser a ponte por excelência entre o grande mundo e o pequeno mundo.
E a mesma hierarquia foi adotada pelos telejornais de começo da noite das grandes redes americanas. E não há de ter sido por razões diferentes daquelas que afetaram o jornalismo diário impresso que a sua audiência caiu acentuadamente. Idem para a queda de audiência da emissora que nasceu para dar notícias 24 horas por dia – a CNN.
A propósito, comparem-se as pautas dos "Evening News" da ABC, CBS e NBC de 20 anos atrás com as de hoje. É a supremacia do que antigamente se chamava fait-divers, do paroquial e do "lado humano". Mesmo a economia é cada vez menos economia e cada vez mais finanças pessoais.

A verdade é que sempre que ouço esse papo fico igual a planeta rebaixado: plutão!