terça-feira, agosto 22, 2006

Bomba global

O seqüestro do repórter da TV Globo Guilherme Portanova e do auxiliar técnico Alexandre Calado foi mais complicado do que se pode pensar num primeiro momento. A libertação de Calado com uma gravação a ser veiculada para que o repórter fosse solto foi uma ação muito ousada. Só me lembro de ter visto algo parecido nas ações de terroristas islâmicos, que inclusive financiam algumas emissoras do mundo árabe. A gravação foi ao ar na íntegra apenas para o estado de São Paulo.
Minha preocupação aqui não é com a ação em si. Apesar de ousada, não é difícil de ser feita, pois existem diversos repórteres da Globo nas ruas todos os dias. A reflexão que faço é com relação à veiculação da fita. Pior do que tomar a decisão foi o pouco tempo que a Globo teve para agir. Havia uma ameaça clara à vida de uma pessoa. A veiculação era condição para a liberdade de Portanova. Diante dessa pressão, a Globo cedeu. Segundo a própria emissora, o conteúdo da fita foi analisado por autoridades, inclusive, e foi exibida, pela segunda vez, agora em rede nacional, editada e com uma narração, em vez da voz do bandido que aparecia na filmagem. Tudo para tentar conciliar os interesses dos bandidos e a libertação do jovem repórter. Essas atitudes surtiram efeito. Guilherme Portanova, por volta de 0h30 de segunda-feira (14/8), estava solto.

Pagamento de resgate

A situação, então, é grave. A veiculação foi uma espécie de pagamento de resgate. A Globo pode tentar minimizar isto, acalmar os ânimos, mas está aberto um precedente. A emissora cumpriu a ordem dos bandidos e o jornalista foi solto. E ela pode pagar uma conta muito alta por isso. Já imaginou se resolverem seqüestrar um jornalista sempre que quiserem dizer algo em horário nobre na maior emissora do país? Pronto. A bomba está nas mãos da Globo.
O terrorismo chegou à imprensa e atingiu de cara uma das instituições mais poderosas. Pensou-se muito no presente, que agora é passado, mas nada no futuro, que hoje é presente. O futuro é hoje. Amanhã. Cada dia que virá. Jornalistas viraram alvo de uma tortura psicológica. Se seqüestrarem outro profissional na semana que vem, a Globo começará o Fantástico com outro depoimento de marginal? Ou vai assumir a responsabilidade de negar a veiculação e encarar a possibilidade de perder uma vida? Entrou-se num caminho sem volta.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Não queria estar na pele da pessoa encarregada de tomar essa decisão na Globo. Acredito que a cúpula da emissora tenha avaliado as conseqüências de veicular o video. No lugar deles eu faria o mesmo. É a mesma situação com que nos deparamos quando alguém da nossa família é seqüestrada: pagar o resgate e torcer para que os bandidos cumpram sua palavra (como se bandido tivesse palavra para cumprir). É mesmo um caminho sem volta, mas não vejo como agir de outra forma, enquanto não houver vontade política para evitar que a bandidagem continue a agir impunemente dentro dos presídios.

agosto 24, 2006 4:58 PM  

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