sexta-feira, agosto 04, 2006

Varig, Varig, Varig

Meu tio, Dodô, trabalhou por mais de 40 anos na Varig. Era comissário de bordo. Com um excelente salário e aposentadoria do mesmo nível, Tio Dodô só não tem uma vida melhor ainda porque as muitas viagens mundo a fora também lhe apresentaram os cassinos, onde deixou muito dinheiro. Mesmo assim, a Varig proporcionou a ele uma velhice, no mínimo, digna.Lembro-me bem quando eu e meu irmão ainda éramos crianças e toda a vez que um avião cortava os céus, lá íamos nós. Corríamos de um lado para o outro, com os braços esticados para os lados, imitando aviões e gritando freneticamente:- Tio Dodô! Tio Dodô!Achávamos que todo avião era da Varig. E que nosso tio estaria em todo o vôo. E que nos ouviria!Sempre encontrávamos com o Tio Dodô nas férias. Além de algumas recordações das cidades por onde passava, ele sempre nos dava aqueles acessórios que a empresa fornecia aos passageiros em viagens mais longas. O que fazia mais sucesso era uma bolsa plástica, que acondicionava uma escova e uma pasta de dentes, bem pequenas; uma máscara de dormir e um chinelão de pano, todos devidamente identificados com o logotipo da Varig. Fazia o maior sucesso com os coleguinhas!- Nossa! O tio deles trabalha na Varig. Diziam eles com ar de admiração.Agora, anos depois, posso até contar essa história para a minha filha. Mas sem personagens muito convincentes. Tio Dodô, perto de completar 80 anos, não chama mais tanto a atenção como quando usava aquele uniforme azul, impecável. E, quem diria, os aviões da Varig não cortam mais os céus.

2 Comments:

Blogger Ná Jornalista web said...

Crises e mais crises!
Uma pena isso, maior lástima ainda para os que foram despedidos na atual situação da empresa e não vão ter a velhice que seu tio tem.
Abcs
Ná Carvalho

agosto 04, 2006 9:43 AM  
Anonymous Anônimo said...

Tenho um amigo que é comandante da Varig. Depois de voar muito tempo para a Europa e EUA decidiu mudar para linhas domésticas para ficar perto da família (muitas vezes passou Natal ou Ano Novo sozinho, do outro lado do oceano). Várias vezes fui a aniversários dos filhos dele no clube da Varig, na Ilha do Governador, e confesso que morria de inveja porque ele trabalhava em uma empresa que oferecia tanta coisa para os empregados. Até ontem, ele ainda não sabia se continuava com o emprego porque seu nome não aparecia em nenhuma escala de vôo para agosto. Ou seja, meio caminho andado para a demissão. Como ele, outros estão na mesma situação.

agosto 04, 2006 4:33 PM  

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