sábado, julho 29, 2006

Tempos iguais?

Como em todas as outras eleições – locais, regionais ou nacionais – realizadas no país desde a redemocratização em 1985, mais uma vez a cobertura dos candidatos pela TV volta a ser objeto do interesse dos partidos e dos observadores da mídia. É mais uma reafirmação de que a televisão tem papel importante na determinação dos resultados eleitorais. E, claro, o principal telejornal da televisão brasileira – o Jornal Nacional da Rede Globo – está no centro do debate.
A indiscrição do presidente do PFL de quem se ouviu dizer que "nosso objetivo se chama Jornal Nacional" e os resultados de pesquisas de intenção de voto indicando que o "fator HH" [Heloísa Helena] pode produzir um cenário que levará as eleições presidenciais para o segundo turno, tornou inevitável que as atenções se voltassem para a exposição que os sete (isso mesmo, sete) candidatos à presidência da República têm recebido do JN desde o final das transmissões da Copa do Mundo – que dominaram a telinha por cinco semanas consecutivas.


Atores em disputa

Uma coluna do jornalista Nelson de Sá na Folha de S.Paulo ("Toda Mídia", quinta-feira, 20/7) dando indicações de que a cobertura do JN estaria deliberadamente favorecendo a candidata do PSOL, senadora Heloísa Helena, provocou uma curta mas esclarecedora resposta do diretor-executivo da Central Globo de Jornalismo, o jornalista Ali Kamel, publicada na Folha no dia seguinte. Nela, além de insistir na imparcialidade da cobertura, Kamel revela que foi celebrado um acordo entre a Globo e os partidos e, sobretudo, que "os candidatos que tenham pelo menos 5% nas pesquisas eleitorais ou alternativamente sejam filiados a partidos políticos que tenham ao menos cinco deputados federais" terão cobertura em "tempos rigorosamente iguais" no JN.
Muito bem. A questão que se coloca é: tempos rigorosamente iguais oferecem alguma garantia de que a cobertura jornalística seja isenta?
A mídia – e a televisão, em particular – é a principal responsável, no mundo contemporâneo, por tornar as coisas públicas. E, exatamente por isso, a política e os políticos dependem dela. Em períodos eleitorais – mas não só neles – os atores políticos têm que disputar visibilidade na mídia. Mas isso não basta: os políticos têm que disputar visibilidade favorável ao seu ponto de vista.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Não sei se HH recebe ou não mais tempo do que os outros no JN. Mas essa história me lembrou uma eleição de anos anteriores, quando TV Globo & Cia não faziam questão de destacar sua "imparcialidade". Não me lembro o ano nem se era para prefeito do Rio ou governador do estado (refresquem minha memória, por favor!). Entre os candidatos havia Benedita da Silva (PT) e Cidinha Campos (PDT). No 1º turno, o Globo e a TV Globo deram muito mais espaço para Benedita e "detonaram" Cidinha. Quando esta ficou fora do 2º turno, a situação mudou e Benedita virou a bola da vez, já que o outro candidato era apoiado por Roberto Marinho. Ou seja, o "apoio" ao PT, inimaginável naquela época, nada mais era do que uma estratégia para derrubar o candidato brizolista. E deu certo.

agosto 03, 2006 11:43 AM  

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