quarta-feira, agosto 16, 2006

Reutersgate

Após empreitada de blogueiros como Charles Johnson, dono do Little Green Footballs e primeiro a noticiar a manipulação de fotos da Reuters – caso já apelidado de Reutersgate, em alusão ao escândalo de Watergate do ex-presidente dos EUA Richard Nixon – iniciativas individuais para desmascarar uma mídia tendenciosa (ou facilmente enganadora) começaram a se espalhar para outras empresas de mídia. O episódio da Reuters culminou no encerramento do contrato com o fotógrafo Adnin Hajj, bem como a retirada de 920 fotos de sua autoria do acervo da agência.
Essa não foi a primeira campanha de Charles Johnson. Em setembro de 2004, pouco depois do programa da CBS 60 Minutes II que fez revelações bombásticas sobre o serviço militar do presidente George W. Bush no Texas, Johnson foi um dos primeiros a apontar problemas na reportagem. Fundamentado ou não, o argumento de Johnson foi suficiente para gerar debates na emissora e contribuiu para a aposentadoria do âncora Dan Rather.
Os casos "Reutersgate" e "Rathergate", segundo Paul Farhi [The Washington Post, 9/8/06], possuem uma característica comum: derivam do ceticismo, senão hostilidade de Johnson em relação à grande mídia. O blogueiro afirma que "o politicamente correto poupou a mídia de massa de boa parte das verdades mais duras".


Lista de manipulações continua crescendo

Segundo Sheera Chaire Frenkel [The Jerusalem Post, 11/8/06], mais de uma dúzia de acusações fundamentadas de encenação ou alteração de imagens foram divulgadas. Nenhuma, no entanto, recebeu a atenção devida. Companhias de renome, como New York Times, BBC e Associated Press, foram obrigadas a fazer recall de fotos ou mudar legendas devido a erros apontados primeiramente em fóruns online.
Algumas das imagens que estão sendo analisadas em blogs mundo afora incluem duas fotos usadas pela Associated Press e Reuters nas quais a mesma mulher aparece chorando sobre a destruição de sua casa em Beirute. Facilmente identificável pela cicatriz na bochecha direita e o cachecol avermelhado, ela aparece chorando em dois lugares diferentes, com duas semanas de distância entre uma foto e outra. A BBC, que utilizou essas fotos para ilustrar os horrores do conflito, retirou-as do seu site.
Várias fotografias de uma ponte bombardeada em Beirute, publicadas pela Reuters e AFP, traziam legendas que diziam que a mesma tinha sido explodida no dia 18/7, 24/7 e 5/8. De acordo com blogueiros, a imagem foi fotografada de forma a parecer ter sido tirada de diferentes bombardeios, acentuando uma aparência de que o estrago no Líbano foi maior do que na realidade.
O New York Times fez um ensaio fotográfico que exibe a imagem de um homem aparentemente morto, com a seguinte legenda: "Corpos ainda estavam enterrados sob os escombros". Mais adiante, na mesma série, o mesmo homem aparece caminhando pela área atingida. O jornal "corrigiu" a legenda da primeira foto, afirmando que o homem estava ferido.
O que faz esse conflito diferente de outros, como bem definiu Daryl Lang [Photo District News, 11/8/06], é a insistência e tenacidade desses críticos da mídia que podem abrir ao mundo suas revelações após intensa análise de fotos em baixa resolução disponíveis gratuitamente no Yahoo! ou Google. Fazem o trabalho de pequenos carpinteiros, emendando lá e cá os erros e tropeços de uma mídia que parece ter esquecido da responsabilidade que tem em conflitos como esse.