sábado, janeiro 20, 2007

Milícia fora do jornal

O presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, coronel da reserva da PM de Minas Gerais Severo Augusto da Silva Neto, disse em entrevista ao Observatório da Imprensa, ontem, que grandes traficantes já usam as chamadas milícias, no Rio de Janeiro, para vender drogas no varejo. A principal bandeira das milícias – denominação, por sinal dada pela mídia, conveniente para os velhos grupos de extermínio que agora dominam quase 100 favelas no Rio de Janeiro – é seu antagonismo aos traficantes de drogas, que são expulsos dessas áreas. Essa expulsão, obtida sem grande aparato bélico, seria a demonstração de que agir contra traficantes não é tão difícil quanto afirma a Polícia.
Mas o coronel aponta um paradoxo digno daqueles filmes policiais em que o “mocinho”, depois de liquidar os bandidos, foge com o dinheiro. Severo Augusto afirma que atacadistas de cocaína e maconha – eles os chama de “empreendedores” –, pragmaticamente, já usam as próprias milícias para distribuir seus produtos. Rei morto, rei posto. Em todas essas modalidades e etapas, integrantes da própria Polícia participam de atividades criminosas.
O especialista elogia a disposição demonstrada pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, de “fazer transformações na questão de segurança pública no Rio de Janeiro”. Ele defende a presença permanente da Polícia e de outros braços do Estado em favelas e comunidades pobres, não apenas incursões em situações de conflagração. Diz que as drogas sintéticas, vendidas fora dos morros, abocanham uma parte do mercado dos traficantes, o que cria novos perigos:
– Eles estão perdendo comércio. Por causa da droga sintética. Quem faz o comércio de droga sintética já não é mais a boca-de-fumo na favela. O traficante cada vez mais vai precisar vender crack, que é a Tubaína nas drogas, para a própria rede dele que vendia cocaína anteriormente, mas que não tinha dinheiro para comprar. Só que o crack deixa as pessoas cada vez mais violentas. É por isso que esses meninos descem do morro feito loucos... Para o traficante não é interessante tocar fogo no ônibus com gente dentro. Nós temos de nos preparar para enfrentar essa mudança de demanda, de mercado, mesmo.

São percepções e análises que ainda não apareceram no noticiário.