sábado, fevereiro 10, 2007

O ensino do jornalismo na contramão da evolução da comunicação online

Esta semana eu fiz uma exposição sobre a Web para professores de uma faculdade de jornalismo e no final um dos participantes saiu-se com uma observação surpreendente: "Poxa, nós estamos indo na contramão deste processo".
O desabafo é um reflexo da confusão que toma conta de muitos professores de jornalismo a partir do momento em que entram em contato mais direto e amplo com as mudanças de valores, rotinas e percepções que a internet está provocando no dia a dia da imprensa.
A ficha caiu apenas para um reduzido número de professores que já se deram conta que o jornalismo é, entre todas as áreas da comunicação, a que foi mais afetada pela avalancha de inovações tecnológicas e de informação, nos últimos 15 anos.
A grande maioria de nossas faculdades ainda encara a Web como uma espécie de moda passageira, quase um brinquedo sofisticado, e não como uma ferramenta de ampliação dos fluxos de informação. Ainda estão deslumbradas pelas novidades tecnológicas sem levar em conta que elas estão mudando radicalmente o ambiente de trabalho, as rotinas e normas da atividade jornalística.
É fácil perceber um nítido desconforto de muitos professores quando constatam que é cada vez maior o número de alunos que tem mais intimidade com a internet do que os responsáveis pela disciplina. Isto aumenta a distância entre alunos e professores, diminuindo enormemente a eficiência do ensino.
Há faculdades que ainda ensinam diagramação de jornais usando papel reticulado quando quase todos os jornais já usam programas como o PageMaker. Nota-se claramente que permanece forte entre os professores o apego à rotinas e processos tradicionais no jornalismo impresso.
Há muitas dúvidas sobre o ensino do jornalismo online. Será que as faculdades devem ensinar os alunos a usar softwares de edição, publicação e interatividade? Ou será que devem concentrar-se em questões teóricas sobre a comunicação na Web? O jornalismo online é uma disciplina isolada ou deve ser incorporado às demais? Qual o melhor estilo de aula para jornalismo online: aulas expositivas ou em laboratório? Qual o grau de liberdade que deve ser dado aos alunos no uso da Web em sala de aula?
Tudo indica que está se aproximando rapidamente o momento em que as escolas de jornalismo terão que rever seus métodos, disciplinas e ementas (conteúdo das aulas) para não correr o risco de formar profissionais para o desemprego.
Mas não é só isto que está em jogo. A universidade tem uma função experimental insubstituível na questão da comunicação online porque, nas atuais circunstâncias do país, é a única instituição capaz de pesquisar a interface humana e social das inovações tecnológicas, especialmente na área da informação.
Algumas poucas faculdades já se deram conta da mudança e estão adaptando a sua grade curricular aos novos tempos. Mas na maioria dos casos a atualização está emperrada porque o ritmo das mudanças é muito mais rápido que os processos burocráticos da academia.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Existem muitos professores de jornalismo que atuam no mercado, mas a maioria ainda se restringe ao meio acadêmico. Nada tenho contra esses, desde que consigam se adequar às novas tecnologias do jornalismo. De que adianta ser um excelente teórico da Comunicação se ele continua arraigado aos velhos métodos, defasado da realidade. Enquanto isso, seus alunos estão anos-luz à frente. E quando isso acontece, ninguém agüenta assistir suas aulas.
O pior é que vemos isso acontecer também na pós-graduação. Participei de uma em que o prof de TV não usou sequer um video, apenas rabiscos no quadro-negro. E olha que ele estava fazendo pós-doutorado. Enfim, são coisas do ensino de jornalismo...

fevereiro 15, 2007 4:36 PM  

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