quinta-feira, junho 15, 2006

Primeiro Mundo

Editor deixa Libé por pressão de acionista

Fundado pelo filósofo Jean-Paul Sartre no início da década de 1970, o diário Libération se afundou em "crise existencial" nesta semana depois que seu principal editor foi convidado a se retirar do jornal. Símbolo da esquerda francesa, o Libé teve de se render ao poder do dinheiro que sempre esnobou. Bernard Lallement, um dos co-fundadores do diário junto com Sartre e com o agora demitido editor Serge July, resumiu a situação: afirmou que o jornal, que "sempre detestou dinheiro", dessa vez "não pôde escapar da realidade econômica".
July, de 63 anos, reuniu os jornalistas na manhã de terça-feira (13/6) para anunciar que o maior acionista do Libé, Edouard de Rothschild, havia pedido sua saída. Rothschild teria ameaçado não aplicar mais um centavo no jornal caso a publicação continuasse sob o comando de July.
O Libération foi forçado a aceitar a incomum parceria de Rothschild, oriundo de célebre família de banqueiros, no ano passado. Se sua circulação nunca passou dos 200 mil exemplares, a queda de leitores nos últimos anos tem sido acelerada. O Libé tem perdido seu público mais rápido que outros jornais franceses – também em crise. Em 2005, o jornal chegou a registrar prejuízos de 500 mil euros por mês.
Edouard de Rothschild, amigo do conservador e controverso ministro do Interior francês Nicolas Sarkozy, injetou 20 milhões de euros no Libé e adquiriu 37% do controle do jornal, tornando-se acionista majoritário. O investidor e July, ex-revolucionário maoista e veterano da revolta estudantil de 1968, nunca se entenderam. Há menções a um raivoso episódio entre os dois, num restaurante em Paris, depois do qual Rothschild teria pedido a cabeça do editor.


Sobre texto de Alberto Dines