segunda-feira, setembro 04, 2006

Auto-Regulamentação de que?

Dois jornais do Rio dão hoje manchete sobre a tragédia que matou cinco jovens em acidente de trânsito ontem na Lagoa Rodrigo de Freitas, de madrugada, ao sair de uma boate.
O Jornal do Brasil fica no fato: "Acidente mata cinco jovens". A explicação para o destaque está no início do antetítulo: "Desastre na Lagoa..."
O Dia capta um contexto maior: "Acidentes matam 50 jovens por mês no Rio".
O Globo não dá manchete, mas dá alto de página: "Velocidade custa vida de 5 jovens na Lagoa".
Em todas as reportagens trabalha-se com a hipótese de que o motorista estivesse alcoolizado, o que é contestado por um jovem que havia passado a noite com o grupo na boate. Não importa se exatamente esse rapaz estava ou não alcoolizado. O fato é que muitos bebem muito mais do que seria razoável.
No Jornal do Brasil, o editor de Cidade, Gustavo de Almeida, pede em pequeno editorial a intensificação das campanhas contra a embriaguez no trânsito, também objeto de um boxe ao lado da reportagem principal.
Nenhum dos jornais questiona a mistura de jovens - em especial mulheres bonitas - e bebidas produzida e veiculada diariamente nas principais emissoras de televisão do país. É um assunto que o Conar, Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária, diz que enfrenta, mas não enfrenta.
Em reunião do hoje indolente Conselho de Comunicação Social (órgão auxiliar do Senado) em 6 de março deste ano, relatou-se a participação do psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, pouco mais de um ano antes, quando o CCS ainda era presidido pelo advogado José Paulo Cavalcanti Filho.
Laranjeira "destacou os danos que as bebidas alcoólicas causam à população brasileira, apontou o aumento do consumo e propôs um conjunto de medidas: a primeira é a restrição da propaganda do álcool; a segunda, é uma política de preços para os produtos, ´porque não existe país no mundo onde o preço do álcool seja mais barato do que no Brasil´; a terceira medida seria a implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbe a venda de bebidas alcoólicas para menores de idade; o quarto grupo de ações seria a implementação das restrições do beber e dirigir", diz a ata da reunião.


Três argumentos foram apresentados pelo médico:

“O primeiro aspecto que considero muito importante seria uma forma de regularmos o debate, a expressão da palavra, porque, como falei, quem tem dado as informações sobre álcool para a população brasileira, especialmente para os jovens, é a indústria do álcool.
O segundo argumento é que a propaganda influencia e educa principalmente os setores mais jovens da sociedade, para quem álcool significa festa. Falar contra o álcool – eu o faço e muitas vezes sou ridicularizado – é impopular. Impopular deveria ser falar que álcool é festa. O que dizer dos 4% de pessoas que morrem e dos 20% de famílias vitimadas pela violência doméstica por causa do álcool? É a mesma coisa, o mesmo fenômeno. Por tudo isso, faz sentido restringir a propaganda, porque educa da pior forma possível a consciência com relação ao álcool.
O terceiro aspecto é que a propaganda estimula o consumo. Quanto maior a exposição de propaganda aos adolescentes, maior o consumo. Isso é muito importante saber, principalmente num País onde o acesso à educação de saúde é tão restrito. Não se deve deixar uma geração de brasileiros exposta à propaganda do álcool".
Laranjeira noticiou a criação da Aliança Cidadã pelo Controle do Álcool e do site
Propaganda sem bebida. Por que a mídia não divulga regularmente esse endereço eletrônico?

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Acidentes como esse acontecem há muitos anos. A causa não se resume ao consumo de álcool nem na aplicação das leis de trânsito. Em outros países, onde a punição é muito mais rigorosa, acontecem milhares de mortes por ano (de jovens ou não) provocadas por acidentes de trânsito. A verdade é que o carro, uma das maiores invenções da humanidade, é uma das maiores máquinas de matar. O estrago que ele faz a 60km/h é enorme. Imagine a 100km ou mais. Ele dá ao motorista uma ilusória sensação de poder, aliado ao "ter" um objeto cobiçado. Principalmente se for novo e caro. Junte a isso a cada vez maior falta de respeito das pessoas hoje em dia. O resultado é o que se vê nas ruas (com todo o respeito à família dos jovens mortos). Há algum tempo que uso muito pouco meu carro, principalmente por morar perto do trabalho (confesso que sou um privilegiado). Por causa disso passei a ver o trânsito com outros olhos...e a evitá-lo cada vez mais. Antes, eu gostava de dirigir. Agora, evito ao máximo tirar meu carro da garagem. Faço o que posso para ir a pé, de metrô, de ônibus e, até mesmo, de táxi (às vezes vale mais e pena). Quando não há outra solução, vou de carro, mas sempre com a sensação de insegurança. Para reduzir os acidentes (eles não vão acabar nunca) será preciso reunir vários fatores: dirigir sem beber, respeitar o "outro", reconhecer que não se é imortal ao volante, querer viver e deixar o outro também viver.

setembro 05, 2006 6:58 PM  

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