Sobre "Falcão-Meninos do Tráfico"
Mas pior ainda foi ver, já no final do Fantástico, a Rede Globo exibir as opiniões de seus formadores de ilusões e mercadores da alienação. Ouvir o que Manoel Carlos tem a dizer sobre “Falcão” é, no mínimo, uma falta de respeito ao telespectador. Manoel Carlos retrata em suas novelas um Brasil e um Rio de Janeiro completamente distante dos personagens do documentário de MV Bill. Manoel Carlos sabe muito sobre as praias do Leblon, as lojas de Ipanema, as chácaras de Vargem Grande e dos condomínios da Barra da Tijuca. Em suas novelas, não existe desemprego, mas também ninguém trabalha. Em suas minisséries, as que vencem no final se prostituem para “ganhar” a vida. Patrão bom é o que come a empregada. E o legal do casamento não é ter uma família, mas um amante.
Mas ainda pior é que, infelizmente, tudo vai continuar da mesma forma depois de “Falcões” e de tudo o que se fale e se escreva sobre o documentário. A polícia vai continuar corrupta. Os políticos serão sempre os mesmos escroques. As crianças continuarão no tráfico, morrendo antes dos 16 anos. E nós, sem exceção, vamos continuar doidos para chegar à noite em casa, para descansar enquanto assistimos mais uma novela de Manoel Carlos.