terça-feira, março 21, 2006

Sobre "Falcão-Meninos do Tráfico"

Falar da perplexidade, da revolta e da indignação provocados pelo documentário “Falcão – Meninos do Tráfico" seria redundante. Além de tudo isso, MV Bill fomentou em mim uma descrença e um nojo ainda maiores a esta corja de políticos que, não lidera, pois não são líderes, mas saqueiam o País. Começo até a pensar, seriamente, em pregar e executar o voto nulo. E quando os ditos formadores de opinião começam a pensar assim, é porque realmente tudo vai mal. Muito mal.
Mas pior ainda foi ver, já no final do Fantástico, a Rede Globo exibir as opiniões de seus formadores de ilusões e mercadores da alienação. Ouvir o que Manoel Carlos tem a dizer sobre “Falcão” é, no mínimo, uma falta de respeito ao telespectador. Manoel Carlos retrata em suas novelas um Brasil e um Rio de Janeiro completamente distante dos personagens do documentário de MV Bill. Manoel Carlos sabe muito sobre as praias do Leblon, as lojas de Ipanema, as chácaras de Vargem Grande e dos condomínios da Barra da Tijuca. Em suas novelas, não existe desemprego, mas também ninguém trabalha. Em suas minisséries, as que vencem no final se prostituem para “ganhar” a vida. Patrão bom é o que come a empregada. E o legal do casamento não é ter uma família, mas um amante.
Mas ainda pior é que, infelizmente, tudo vai continuar da mesma forma depois de “Falcões” e de tudo o que se fale e se escreva sobre o documentário. A polícia vai continuar corrupta. Os políticos serão sempre os mesmos escroques. As crianças continuarão no tráfico, morrendo antes dos 16 anos. E nós, sem exceção, vamos continuar doidos para chegar à noite em casa, para descansar enquanto assistimos mais uma novela de Manoel Carlos.

quinta-feira, março 16, 2006

Mente Brilhante!

Vou criar um prêmio que vai se chamar "Mente Brilhante!". Ele será dado apenas àqueles que acreditam que têm uma inteligência muito maior que as dos outros. Já tenho um candidato. Ele se considera como uma espécie de "paladino da moral e dos bons costumes", ou a versão melhorada daquele nerd deficiente chamado Willian Gates. Bill, para os íntimos. Acontece que esse "senhor informática" acredita que restringir o conteúdo de acesso à Internet trará mais produtividade a uma empresa. Pode até ser, mas a menos que essa empresa tenha uma redação jornalística. Por exemplo: é proibido acessar qualquer site que tenha a palavra "blog". Nada de ver meu blog, é claro... Mas também nada de ler o Noblat. Ora, mas para que um jornalista precisa ler o Noblat todo o dia, não é? Há, nada de acessar emails particulares também. Para isso, senhor informática criou um email da empresa. Só hoje recebi nove releases no email particular, contra quatro no da empresa. Aproveitei apenas metade deles, todos do email particular, é claro. Como acessei? Aproveitei o horário do almoço para dar uma passada em casa e acessar minha conta particular.
Mas é claro que essas medidas são necessárias, afinal, se eu precisar resolver algum assunto particular eu posso usar o email comercial. Pelo menos na cabeça no meu candidato ao "Mente Brilhante!" isso seria mais ético do que o contrário, que seria praticamente uma heresia.
Eu sei que têm os casos daqueles caras que não podem ver uma Internet para acessar sites pornográficos. Mas é melhor demitir o cara do que fazer com que todos os outros paguem pela volúpia digital do outro. Ou, no máximo, que se restrinja apenas os sites pornográficos. É uma questão lógica e de fácil entendimento. Menos para as mentes brilhantes, que só não são melhores em tudo por um único detalhe: não enxergam o óbvio... e são intransigentes!
Alguém tem mais um candidato ao "Mente Brilhante!"?

terça-feira, março 14, 2006

Sob Medida

O Globo Repórter da última sexta (10) mostrou um especial sobre “Famosos por um dia”. Entre tantos personagens, o destaque maior do programa foi para o menino de Pernambuco, Victor Hugo, de 13 anos. O garoto foi o primeiro a subir ao palco durante o primeiro show do U2, em São Paulo.
Escolhido ao acaso pelo vocalista Bono Vox, Victor Hugo cantarolou – e desafinou - uma ou outra frase com o líder da banda irlandesa. Mais tarde, entretanto, a “performance” de Victor seria ofuscada por uma certa bancária de Volta Redonda, que, além de permanecer ao lado de Bono durante um dos maiores hits da Banda, foi acariciada e até roubou um “selinho” do cantor. Ela sim foi a maior atração do show entre os anônimos.
Prova disso foi o dia seguinte. A imprensa de todo o País e até do exterior entrevistou a bancária. Cogitava-se até ensaios em revistas masculinas. Tudo caminhava bem, até que, pessimamente orientada, o repentino sucesso sobe à cabeça da bancária, que começa a cobrar cachês para entrevista. “Por telefone tem desconte. Pessoalmente e com foto temos que combinar o preço”, dizia uma dublê de assessora de imprensa, cúmplice da burrice da bancária.
Certamente, ela seria a estrela do Globo Repórter. Talvez até ganhasse algum dinheiro com a fama repentina. Mas a atitude dela, sem dúvida, foi um dos motivadores da pauta do programa da Globo. No lugar da bancária, um moleque de Recife, gente boa e nem aí para cachês. E o texto da reportagem do Globo Repórter, além de enaltecer as qualidades do garoto, ainda foi feito sob medida para cutucar a bancária:
“Ele foi o destaque de uma platéia de 73 mil pessoas. Cantou apenas duas frases com Bono Vox”. E mais adiante: “Cansado sim, mas sem estrelismos. Victor Hugo é simpático e atencioso”.
As frases usadas pela reportagem são recados implícitos para a moça de Volta Redonda. E quase toda a condução de edições de imagem e texto se preocupavam mais em esbofetear a bancária do que promover Victor Hugo, que, aliás, nem precisa disso, já que se mostrou super tranqüilo como “celebridade”, e realmente assumiu o posto de estrela do show do U2. Esse posto tinha dono, era da bancária de Volta Redonda, que eu nem citei o nome porque realmente não me lembro mais. Nem eu, nem mais ninguém. Pobre desconhecida! Agora, somente mais uma no meio de mais de 70 mil anônimos que aplaudiram Victor Hugo naquele noite no Morumbi.

sexta-feira, março 10, 2006

Síndrome de Folha

O assunto foi levantado pelo amigo Roberto Duarte, jornalista no Rio, que, como eu, acredita (va) que O Globo era o ícone da resistência à padronização do jornalismo impresso ao estilo Folha de S.Paulo, mas parece que as coisas estão mudando, como disse o Roberto:
"O Globo está acometido da "Síndrome de Folha de S.Paulo". Vocês já repararam como é cada vez mais freqüente o jornalão carioca usar legendas óbvias para as fotos? Isto é, aquelas que explicam exatamente o que a imagem mostra (a Folha é campeã neste quesito). No domingo passado (5/2), na 1ª pg havia uma foto em destaque sobre a ocupação do exército nas favelas, onde uma mulher e uma criança passavam diante de um carro blindado. Imaginem o que a legenda dizia? Exatamente isso. No miolo havia uma segunda foto sobre a mesma matéria com legenda também óbvia.
Essa história tem se repetido com freqüência no Globo. Será que encarregaram um burocrata qualquer para escrever as legendas do jornal? Ou será que os coleguinhas que trabalham lá estão sem imaginação (não confundam pressa de fechamento com incompetência). Eu estranhei que nas críticas diárias que o Luiz Garcia faz na pg 2 não apareceu nenhum comentário sobre essas legendas sem imaginação. Ou, então, ele ficou tão constrangido de destacar esse erro que circulou a crítica apenas internamente."

quinta-feira, março 09, 2006

Tudo quanto penso

Tudo quanto penso,
Tudo quanto sou
É um deserto imenso
Onde nem eu estou.
Extensão parada
Sem nada a estar ali,
Areia peneirada
Vou dar-lhe a ferroada
Da vida que vivi.

Fernando Pessoa

quarta-feira, março 08, 2006

Acontece

Bateram à minha porta em 6 de agosto,
aí não havia ninguém
e ninguém entrou,
sentou-se numa cadeira
e transcorreu comigo, ninguém.

Nunca me esquecerei daquela ausência
que entrava como Pedro por sua causa
e me satisfazia com o não ser,
com um vazio aberto a tudo.

Ninguém me interrogou sem dizer nada
e contestei sem ver e sem falar.
Que entrevista espaçosa e especial!


Pablo Neruda (Últimos Poemas)

terça-feira, março 07, 2006

Pátria amada, Brasil!

Meia dúzia de pés-de-chinelo invadem uma das maiores unidades do Exército Brasileiro, no Rio, rendem as sentinelas e roubam armamentos pesados e de uso exclusivo das Forças (Des)Armadas. Humilhados, os velhos generais da ditadura ordenam a ocupação de morros cariocas. Garotos de 18 anos, despreparados e assustados, combatem inimigos invisíveis, crianças, homens e mulheres, muitas vezes drogados, outras tantas alucinados pelo falso poder do tráfico nas favelas. Um exército paralelo do tráfico. Em apenas mais um capítulo de uma guerra que todos sabem que existe, mas não reconhecem... E as vítimas já começam a aparecer, com a morte de um menino de 15 anos que procurava uma vaga num curso de fotografia. Enquanto isso, bem próximo dali, aquele que seria o último dos generais democratas (isso existe?!) manda um vôo comercial que já taxiava parar para que ele entrasse. Não se sabe como um casal que já estava alojado no avião, "voluntariamente", cede o lugar para o embarque do condecorado. Depois de mais uma noite aquartelados, os meninos do Exército, perfilados, às 5 horas, cantam mais uma vez o hino de exaltação à Pátria e deixam as casernas para mais um dia de guerra. Quais serão as próximas vítimas? "Dos filhos desse solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil!"

sexta-feira, março 03, 2006

Mais uma loucura do 'jornalismo'

O lead abaixo foi clonado do jornal Correio da Barra - de Barra do Piraí (RJ) - na edição de 03 de fevereiro de 2006:

"Posto Albert Sabin começa a ser reformado
Equipamenos que vão permitir resultados de exames mais rápidos, já estão sendo licitados

Barra do Pirai

Nem sempre o tamanho da roseira determina a dor do espinho. A frase, na verdade, não é de ninguém, mas o problema caiu nas mãos do prefeito de Barra do Pirai, Zé Luiz Anchite, que na última semana teve que decidir entre subvencionar as escolas de samba para o carnaval de rua, ou investir na reforma, ampliação e compra de novos equipamentos para o Posto de Saúde Albert Sabin, hoje referência no atendimento à população, e para a Santa Casa de Barra do Pirai. E as declarações do prefeito começaram a ser cumpridas. Na tarde de quarta-feira, Zé Luiz assinou convênio para doação de um aparelho de eletroencefalograma para a Santa Casa, no calor de R$ 27 mil."


Legal, não é?

quinta-feira, março 02, 2006

Entre o ócio e o tédio

“O preço do tédio reside no fato de que este se apodera da alma que aprende então a aspirar às distrações do ócio”.
Nietzsche