sexta-feira, julho 29, 2005

Dor

Chega uma hora em que você não sente mais a dor. Isso não significa que não dói mais. Que não há mais dor. Você apenas não a sente, mas ela continua lá, intacta e vibrante. Machucando. Você apenas se acostumou. Me acostumei...

quinta-feira, julho 28, 2005

Apenas um jornalista

Terça-feira. Frio. Chuva. 16h15. Na sala de espera há mais de duas horas, o entra-e-sai dos visitantes era o que me mantinha acordado. Estava calmo, quase sonolento. Aguardava o fim de uma entrevista até que , finalmente, era chamado. Sorridente, uma jovem funcionária me recebia à entrada. Numa pequena sala, uma mesa quase toma conta de todo o ambiente. Em uma das três cadeiras, uma segunda funcionária, uma senhora, uns 40 anos. O ambiente é claustrofóbico. Pior para mim, que sofro desse mal.
Cerimônias, cumprimentos, amenidades. As perguntas são iniciadas. Frases feitas, questionamentos preparados. Do outro lado, apenas a ansiedade de não cometer erros. O nervosismo de quem é, antes de tudo, um repórter. Repórteres preferem perguntar. As respostas são sempre curtas. Objetivas, como a profissão exige.
Talvez aí já tenha surgido o primeiro obstáculo. Geralmente, profissionais de RH não entendem essa objetividade jornalística. São prolixos. Sem falar no excesso de verbos e gerúndios nas frases, que, além de soarem pessimamente, desestabilizam qualquer pessoa, principalmente um jornalista.
- O que o senhor poderia estar oferecendo para a empresa? – irritante.
Mesmo assim, a conversa fluía. Era necessário. Era a grande chance da minha vida! Não podia – e não queria – desperdiçá-la. Entre uma pergunta e outra, um interminável trânsito de trens do lado de fora interrompia todas as respostas. A cada hiato, uma anotação. A cada anotação, uma incerteza. Meu Deus! Como pode ser dado a apenas duas pessoas o poder de decisão sobre a vida de outras? Como podem julgar minha capacidade profissional? Mas eu não estava lá para perguntas. E uma resposta positiva mudaria a minha vida! Uma resposta negativa e a vida das duas continuaria a mesma.
- Ok, Marcelo! Muito obrigada por você estar participando desse processo! Em breve estaremos entrando em contato com você.
Alguns dias depois...
- Marcelo? Olha, estamos retornando e, após análise, decidimos que, apesar da irrelevante diferença, optamos por outros candidatos. Obrigada ! Vamos estar aguardando por uma próxima oportunidade.
Desliguei o celular. O sorriso nos lábios, que sempre me acompanhou, desapareceu. E anda sumido até hoje. Recebia ali uma sentença construída em apenas 20 minutos. Foram, sem dúvida, os 20 minutos mais longos e intensos da minha vida. Duas simpáticas, prolixas e adeptas de verbos e gerúndios sentenciaram minha capacidade profissional. A vida delas continua a mesma. A minha? Nem um sorriso mais me oferece.
Meu amigão, fiz o possível para não decepcioná-lo. Deus sabe o quanto eu queria estar aí, trabalhando ao seu lado. Eu deveria ter sido mais calmo. Deveria ter escolhido melhor as palavras ou, quem sabe, ter levado respostas-prontas. Deveria ter sido mais mecânico. Me desculpe, amigo do peito, mas ainda não aprendi a deixar de ser eu mesmo. Apenas um jornalista. Apenas um ser humano.

Um grande abraço.

Sou apenas eu

Sou apenas uma cabeça
em cima de um corpo
antenado a procura
de boas vibrações

Sou apenas um coração
batendo na carcaça de um peito
procurando viver
todas as minhas emoções

Sou apenas uma alma
ferida de morte
procurando esquecer
minhas desilusões.

quarta-feira, julho 27, 2005

RESTOS

De todos os azuis
que um dia possuí,
hoje, só me resta
a cor azul.

De todos os sonhos
que um dia tive,
hoje, só me resta
a vontade de sonhar.

De todos os ideais
que um dia acalentei,
hoje, só me resta
a lembrança de um idealista.

De uma criança
crédula, sem dúvidas,
esperançosa e sonhadora,
hoje, só restou a mim
descrenças, desconfiança
e realismo.

Restos, sou todo
restos!

terça-feira, julho 26, 2005

Script for a jesters tear

So here I am once more in the playground of the broken hearts
One more experience, one more entry in a diary, self-penned.
Yet another emotional suicide, overdosed on sentiment and pride
Too late to say I love you, Too late to restage the play
Abandoning the relics in my playground of yesterday

I'm losing on the swings, I'm losing on the roundabouts
Too much, too soon, too far to go
Too late to play, the game is over

Yet another emotional suicide overdosed on sentiment and pride
I'm losing on the swings, I'm losing on the roundabouts
The game is over

Too late to say I love you, Too late to restage the play
The game is over

I act the role in classic style
Of a martyr carved with a twisted smile
To bleed the lyric for this song
To write the rites to right my wrongs
An epitaph to a broken dream
To exorcise this silent scream
A scream that's borne from sorrow

I never did write that love song
The words just never seemed to flow
Now sad in reflection
Did I gaze through perfection
And examine the shadows on the other side of morning
And examine the shadows on the other side of mourning
Promised wedding now a wake

The fool escaped from paradise will look over his shoulder and cry
Sit and chew on daffodils and struggle to answer why?
As you grow up and leave the playground
Where you kissed your prince and found your frog
Remember the Jester that showed you tears,
The script for tears

So I'll hold my peace forever when you wear your bridal gown
In the silence of my shame, the mute that sang the siren's song
Has gone solo in the game, I've gone solo in the game
But the game is over

Can you still say you love me


Marillion

Leito

Às vezes tenho a nítida impressão de que vivo uma espécie de pesadelo recorrente do qual me é vetada a possibilidade de acordar... Mas, se ainda não estou morto (e esta não passa de outra sensação), deve haver alguma chance da qual ainda não me dei conta. O curioso é que eu mesmo preparei o leito ao qual me encontro atado.

segunda-feira, julho 25, 2005

Em qual dos casos?

A frase de Goethe, notável poeta alemão, não deixa dúvidas sobre as características que um líder jamais pode ter diante das crises: "A causa real da maioria de nossos grandes problemas está entre a ignorância e a negligencia". Será que Lula está livre dessas características, ou possui as duas?

sexta-feira, julho 22, 2005

Música para Lula

Parece que está virando mania entre os parlamentares da CPI recorrer a velhas canções para sustentar seus argumentos. Se a moda realmente pegar, a única esperança para Lula nas próximas eleições será o povo relembrar Paulinho da Viola:

"Não quero vingança
Eu não
O que você me fez
Juro que já perdoei
Não é fácil a gente se livrar
De uma ingratidão
Mas desta, graças a Deus me livrei
Eu só quero dizer que na hora

Aparece um caminho
Pra todo aquele que sabe de fato sofrer
Você não deve chorar
E muito menos temer
Porque eu não guardo rancor de você"

Catilinária de Delúbio

Os advogados conhecem bem, os jornalistas também, já que a Filosofia é cadeira comum. O primeiro discurso contra Catilina, de Marco Túlio Cícero (106 a.C. - 43 a.C.), cônsul de Roma, recitado no Templo de Júpiter, em 8 de Novembro de 63 a.C., local para onde tinha sido convocado o Senado de Roma. A etimologia da palavra CATILINÁRIA tem a sua origem de uma acusação violenta, como a que Cícero fez a Catilina, maior inimigo da República Romana. É incrível, mas este texto de mais de 2 mil anos bem serve para o atual momento.

“Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há de precipitar a tua audácia sem freio? Nem a guarda do Palatino, nem a ronda noturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disto conseguiu perturbar-te? Não sentes que os teus planos estão à vista de todos? Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem? Quem, de entre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, em que local estiveste, a quem convocaste, que deliberações foram as tuas? Oh tempos, oh costumes!”

Cícero (63 a.C)

quinta-feira, julho 21, 2005

Pergunta direta

De todas as bobagens que ouvi durante os interrogatórios da CPMI dos Correios, o destaque positivo ficou para a deputada federal Denise Frossard (PPS-RJ). A primeira pergunta da ex-juíza ao ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, foi, em minha opinião, a mais contundente e direta:
- Senhor Delúbio, o senhor conhece algum presídio ou sabe como é a vida por lá?
- Prefiro não responder essa questão, senhora deputada, disse Delúbio.
- Pois eu conheço. Já fiz várias visitas, emendou Denise, para completar em seguida:
- Acho que o senhor deveria conhecer também, pois, do jeito que conduz sua defesa, é para lá que o senhor irá.

segunda-feira, julho 18, 2005

Festa pela Liberdade de Imprensa

Utilizando a Lei de Imprensa, o armador e empresário de comunicação Nelson Tanure entrou com uma queixa-crime por difamação e injúria contra os presidentes dos Sindicatos dos Jornalistas do Rio, Aziz Filho, e de São Paulo, Fred Guedini, o repórter Murilo Fiuza de Melo e o ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio, Luiz Chaves.
O empresário se sentiu ofendido pela matéria da revista Lide, editada pelo Sindicato do Rio, sobre a história gloriosa do JB e as dificuldades do jornal sob seu comando. Não gostou de ter lido que os profissionais do JB, em sua maioria, são contratados irregularmente como pessoas jurídicas, não têm carteira assinada nem acesso a direitos constitucionais como o FGTS. Fred Guedini está sendo processado por afirmar que "Tanure é o grande predador da imprensa no Brasil. É um ser que destrói tudo aquilo que consegue pôr a mão." Já o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos afirmou que Tanure "foi o maior inimigo da indústria naval e hoje é o maior inimigo da imprensa". Aziz Filho é acusado do crime de fazer elogios à reportagem, assinando o editorial.
A entidade carioca está convocando seus associados e todos os cidadãos com apreço pela informação livre para uma festa, cuja renda será utilizada para enfrentar essa briga judicial. O evento dançante será dia 08 de agosto, no Theatro Odisséia (Rua Mem de Sá, 66 - Lapa - Rio de Janeiro), a partir das 19h. Ingressos a R$ 10,00.

sábado, julho 16, 2005

Não me conhecia

Não me conhecia. Descobri isso há poucos dias. Recebi um "espere uma nova oportunidade", quando tinha a certeza que essa seria a melhor oportunidade. Isso me fez muito mal. Pensei que iria superar. Pensei que me recuperaria. Não me conhecia. Estou pior do que imaginava. Mas já começo a aprender. Afinal, somente quando desejei ir até o fundo de mim mesmo, descobri que jamais seria poupado do desafio do sofrimento.

sexta-feira, julho 15, 2005

Filosofando...

Nasci careca, sem dente, pelado e descalço. Tudo o que veio depois é lucro, até as injustiças!

sexta-feira, julho 08, 2005

Recesso de Alma

Estou muito triste! Esperava receber uma notícia boa, mas me decepcionei. Me sinto derrotado. Injustiçado. Por isso, vou deixar de escrever por alguns dias, até que me recupere do impacto. Não vou parar para descansar, não. O cansaço não me impede de escrever. Não escrevo com as mãos. Escrevo com o coração. O que vai parar, portanto, não será o meu corpo. Até que a tristeza desapareça, vou descançar a alma, ferida. Abatida. Meu recesso será da alma.

O DIA

A nota a seguir estava no site do Comunique-se de ontem:


"Em comunicado enviado à imprensa, o Grupo O Dia de Comunicação informa que fechou o ciclo de reestruturação de sua direção com o anúncio de que Elizabeth Oliva, atual superintendente de Projetos Especiais, agora é diretora comercial da empresa, cargo antes ocupado por Paulo Fraga. O quadro de diretores agora está completo: além de Elizabeth, tem Mário Reis (Diretor de Marketing), Ronaldo Carneiro (Diretor Administrativo-Financeiro) e Eucimar de Oliveira (Diretor de Redação)."

É, a nota só não fala nada sobre o fechamento das sucursais, nem tampouco das dezenas de colegas demitidos em todo o Estado.

quinta-feira, julho 07, 2005

Brasileiro comum

Marcos Valério, suposto caixa do mensalão, disse em depoimento que não passava de um "brasileiro comum". É, pode ser. Se todos os brasileiros pudessem fazer saques de R$ 21 milhões, em dinheiro, realmente ele seria um brasileiro comum.

quarta-feira, julho 06, 2005

Jefferson: o preparado

O deputado Roberto Jefferson foi entrevistado na madrugada de quarta-feira, no Programa do Jô. Não quero nem falar do excesso de zelo de Jô Soares, que não acrescentou nenhuma novidade ao caso do mensalão, com perguntas pouco contundentes ao deputado, que é uma mescla de Calígula e Nero. A única coisa que chamou a atenção foi o fato de – sem necessidade, diga-se de passagem – Jô tenha pedido para Jefferson cantar Vingança, de Lupcínio Rodrigues (compositor brasileiro que, mesmo morto, fez com Jefferson o que grande parte dos brasileiros desejaria: deixá-lo com um olho roxo). Imediatamente, o deputado sacou a letra da música. Jô logo se apressou em afirmar que não havia nada combinado. Jefferson aproveitou para emendar: “Eu já previa que você fosse me pedir, e vim preparado”. Exatamente como foi preparado aos depoimentos na PF e na CPI. Tudo é um jogo de cartas marcadas. Verdade e mentiras tomam o mesmo corpo. Nem o blefe é possível.

Contágio

O crime é contagioso. Se o governo quebra a lei, o povo passa a menosprezar a lei. A pior coisa provocada pelo "mensalão" não será o escândalo do envolvimento das autoridades, mas o fim delas. Ninguém pode impor leis, caráter ou qualquer coisa que seja, se não mais pode erguer os olhos para encarar alguém. O crime é contagioso, tomara que a vergonha também!

segunda-feira, julho 04, 2005

A primeira vez, a gente nunca esquece

Dizem que a primeira vez ninguém esquece. E não esqueci a minha. Contrariando uma velha tradição de família, minha primeira vez foi aos 16 anos. Segundo conta meu pai, os homens eram “iniciados”, no máximo, aos 12 (!). E aí eu quebrei outra tradição da família. Não recorri a nenhum dos velhos bordeis da região da Lapa, no Rio. Lá, dizem, meu pai e meus tios tiveram suas primeiras experiências reais com o sexo. Comigo foi bem diferente.
Era também a primeira vez que viajava sozinho com amigos. Fomos a uma pequena cidade de Minas. Na velha rota do trenzinho que saía de Barra Mansa (bons tempos !). Lembro como se fora hoje! Depois de algumas horas dentro do trem, algumas cervejas pelo trajeto – o máximo era viajar no vagão-restaurante –, chegamos ao destino. Logo de cara, a empolgação inflava os peitos de três moleques de Volta Redonda, e que, quando chegavam a Minas, eram tratados como cariocas. Era o máximo!
Esperando o trem, lá estavam todas as menininhas da cidade. A maioria delas longe da mulher ideal. Outras até que bem bonitinhas. Entre essas estava uma loirinha, olhos verdes e corpo bem torneado. O nome dela era Beatriz. A aparência era de uns 16 ou 17 anos. Foi paixão de primeira! “Ela é minha, vi primeiro!”, avisei aos companheiros.
Chegamos cansados, é claro, e fomos para uma das poucas pensões do lugar. Tomamos um bom banho, com água aquecida por serpentinas que passavam pelo fogão a lenha. Nos arrumamos com as melhores roupas e, logo, éramos atrações na cidade. Partimos para um “bar-boite-danceteria” – o único do lugar. Fizemos o maior sucesso, e os matutos, claro, morriam de ciúmes. Mas não teve jeito. A noite era nossa!
No meio da música, que para nós era totalmente fora de moda, lá estava a Beatriz. Foi fácil, já que ela também parecia ter dito o mesmo para as colegas quando cheguei : “Vi primeiro, é meu”. Dançamos, conversamos, trocamos uns beijos e fomos para casa, já de manhã. No dia seguinte, Beatriz, que na verdade tinha 22 anos, foi até a pensão me procurar. Foi aí que aconteceu!
Estava sozinho – meus amigos tinham ido conhecer as cachoeiras. Ela me chamou, conversamos um pouco, depois a convidei para ir ao meu quarto. A desculpa foi ouvir as fitas-cassete com os hits do Rush. Ela sequer tinha ouvido falar nos canadenses. E a coisa aconteceu. Beatriz não era virgem – talvez até já tivesse conhecido o Rush, mas não contou nada, com medo de quebrar o encanto, é claro. Mas notei também que ela não era tão experiente. Longe disso. Mas foi muito bom. Ao som de Subdivisions, finalmente descobrira o sexo. Ficamos oitos dias na cidade, dos quais mais dois foram apresentando à Beatriz o restante das fitas-cassete.
Depois disso, cheguei a Volta Redonda, de maneira diferente. Parecia mais forte, mais bonito, mais homem. Contei a aventura ao meu pai, que se limitou a dizer: “Cuidado daqui para frente!”. Depois da aventura em Minas, houve várias outras. A cada vez, uma nova descoberta. A cada relacionamento, uma nova maneira de se conhecer sobre o sexo, redescoberto a cada nova “beatriz”.
Sou grato a Beatriz até hoje. Foi ela quem me apresentou o sexo. E foi ela também quem contribuiu para que eu seja apaixonado pela Michely, minha esposa. Afinal, Beatriz me apresentou o sexo, que foi aperfeiçoado milhões de vezes com a Michely, que me apresentou o amor. Que o diga a nossa filha, Maria Eduarda, que nasce em pouco tempo.
A Beatriz? Nunca mais a vi. Mas a primeira vez, a gente nunca esqu
ece.