Educação?!
Desde quando foi lançado há 25 anos, o filme "A Guerra do Fogo", do diretor Jean-Jacques Annaud, vem sendo usado como recurso pedagógico em sala de aula para ilustrar os tempos pré-históricos. Seja em escola pública ou particular. Só que em Pinheiral, mais precisamente no Centro Municipal de Ensino Roberto Silveira, a sua exibição pode custar o emprego público do professor de História, Edson Teixeira da Silva Júnior. Após passar o filme aos seus alunos de quinta série, ele foi afastado das aulas e está respondendo a uma sindicância e a um processo disciplinar, sob a alegação de que alguns pais teriam reclamado de cenas obscenas e das discussões, entre elas gravidez na adolescência e violência, levantadas pelo professor após a exibição de "A Guerra do Fogo". "Discuti com alunos questões como a origem da humanidade, o avanço tecnológico e as relações do comportamento humano. O filme, inclusive, é recomendando pelos livros do Ministério da Educação e ilustra como poucos as dificuldade e necessidades do ser humano na pré-história", explica o professor, argumentando que, seguindo o Parâmetro Curricular Nacional (PCN), ele trabalha com a contextualização do conhecimento. "A partir disso, falamos das conquistas da mulher, do alto índice de gravidez na adolescência em Pinheiral, da violência, do desemprego...", enumera Edinho, que é doutor em História pela Universidade Federal Fluminense e professor dos colégios estaduais Guanabara e São Paulo e do Acae. No entanto, para o professor Edson, que é diretor do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (SEPE), o filme serviu apenas como um pretexto para puni-lo. "As reclamações são legítimas, mas a situação poderia ser encaminhada de outro modo. Em nenhum momento fui ouvido, só agora na sindicância. Como sou diretor sindical, incentivo a criação de grêmio estudantil, a eleição para diretores, uma associação de pais e alunos, isso ganhou ares de vingança política. A meu ver, faltou competência pedagógica. As diretoras não agiram de acordo com o cargo que exercem, mas com vingança pessoal e política. É uma atitude autoritária", acusa o professor Edinho, que reclama por não ter sido ouvido nenhuma vez, apenas durante o depoimento à comissão de sindicância. "Em pleno século XXI, estou sendo tratado como um preso incomunicável. Houve a reclamação e em nenhum momento houve espaço para defesa. Eu só recebi comunicados. Fui afastado e informado por um porteiro que não poderia entrar na escola", conta o professor, afirmando que sempre teve uma boa relação com alunos, professores e funcionários. "Fui eleito professor conselheiro em três turmas, das cinco que eu dou aula. Tenho recebido apoio dos alunos. Vários deles tem me mandado cartas de apoio e soube que colegas estão fazendo um abaixo-assinado em meu favor", diz o professor, afirmando que mesmo após a sindicância quer continuar na escola. "Por mim, não há motivo pra ser transferido. Além disso, fui eleito por alunos e seria um contra-senso eu sair", argumenta. A polêmica em torno do caso está tomando proporções tão grandes que, na semana passada, o também professor de História, Marcos Aurélio Ramalho Gandra, ao defender Edson teria discutido com as diretoras da escola e o episódio terminou na 101ª Delegacia de Polícia. Marcos Aurélio, que também é diretor do Sepe, afirma que flagrou uma reunião da direção com professores do CA à 4ª série, na qual, segundo ele, se pedia que não aderissem ao abaixo-assinado em favor do professor Edinho. "Havia uma coação para que não assinassem o documento e na reunião estavam "queimando" o professor. Claro que eu protestei, isso gerou uma discussão de pontos de vista, mas em nenhum momento ofendi ninguém. Depois, já na sala de aula, fui chamado na frente dos meus alunos para ir a diretoria e lá havia dois Policiais Militares me esperando para levar para a Delegacia", relata o professor, que foi acusado pela diretora da escola, identificada como Sediene, por injúria. Já ontem, na sexta 26, o Sepe preparou um ato público de apoio ao professor. Pela manhã, foi feita panfletagem na escola e, à noite, estava prevista a exibição do filme "A Guerra do Fogo" na praça central de Pinheiral, com direito a uma aula pública do professor Edinho. "Vou dar uma aula exatamente como a que dei para os alunos, para as pessoas saberem do que se trata", comentou o professor, que já prestou um depoimento de cinco horas à comissão de sindicância e rebateu acusações de que estaria usando em aula "termos impróprios à idade dos alunos". "Agora, haverá um novo depoimento com testemunhas de defesa e de acusação", informou o professor, que ainda não sabe quando será ouvido novamente.