sábado, julho 29, 2006

Tempos iguais?

Como em todas as outras eleições – locais, regionais ou nacionais – realizadas no país desde a redemocratização em 1985, mais uma vez a cobertura dos candidatos pela TV volta a ser objeto do interesse dos partidos e dos observadores da mídia. É mais uma reafirmação de que a televisão tem papel importante na determinação dos resultados eleitorais. E, claro, o principal telejornal da televisão brasileira – o Jornal Nacional da Rede Globo – está no centro do debate.
A indiscrição do presidente do PFL de quem se ouviu dizer que "nosso objetivo se chama Jornal Nacional" e os resultados de pesquisas de intenção de voto indicando que o "fator HH" [Heloísa Helena] pode produzir um cenário que levará as eleições presidenciais para o segundo turno, tornou inevitável que as atenções se voltassem para a exposição que os sete (isso mesmo, sete) candidatos à presidência da República têm recebido do JN desde o final das transmissões da Copa do Mundo – que dominaram a telinha por cinco semanas consecutivas.


Atores em disputa

Uma coluna do jornalista Nelson de Sá na Folha de S.Paulo ("Toda Mídia", quinta-feira, 20/7) dando indicações de que a cobertura do JN estaria deliberadamente favorecendo a candidata do PSOL, senadora Heloísa Helena, provocou uma curta mas esclarecedora resposta do diretor-executivo da Central Globo de Jornalismo, o jornalista Ali Kamel, publicada na Folha no dia seguinte. Nela, além de insistir na imparcialidade da cobertura, Kamel revela que foi celebrado um acordo entre a Globo e os partidos e, sobretudo, que "os candidatos que tenham pelo menos 5% nas pesquisas eleitorais ou alternativamente sejam filiados a partidos políticos que tenham ao menos cinco deputados federais" terão cobertura em "tempos rigorosamente iguais" no JN.
Muito bem. A questão que se coloca é: tempos rigorosamente iguais oferecem alguma garantia de que a cobertura jornalística seja isenta?
A mídia – e a televisão, em particular – é a principal responsável, no mundo contemporâneo, por tornar as coisas públicas. E, exatamente por isso, a política e os políticos dependem dela. Em períodos eleitorais – mas não só neles – os atores políticos têm que disputar visibilidade na mídia. Mas isso não basta: os políticos têm que disputar visibilidade favorável ao seu ponto de vista.

sexta-feira, julho 28, 2006

Criativo e perturbador



Nunca alguém foi tão criativo e perturbador sem perder a independência e o estilo pessoal. E mais: poucos foram tão inovadores e modernos tanto tempo seguido. Miles Davis morreu em 1991, novo, segundo contam, com os olhos arregalados, vendo tudo, como sempre.
Nascido em St. Louis, o músico nunca primou pela "reverência". Davis, esteticamente, também era irreverente. Sua família queria que ele tocasse violino, mas desde os treze anos ele já estava com seu pistom e não o largaria de modo algum. Foi-lhe ensinado que tocasse "rápido e limpo", e sem firulas, já que para seus professores, um dia o garoto americano ficaria "velho e lento". Logo que se sentiu preparado, ingressou na banda de Billy Eckstine, que já contava com Charlie Parker, Dizzy Gillespie e o baterista Art Blakey (que formação!). Mais tarde, todos partiriam para Nova York, onde as coisas aconteciam, e ainda acontecem.
Foi então que começou a revolução que os críticos classificariam como be-bop - a trilha sonora do movimento beat. Davis logo começaria a obter reconhecimento, então, gravou "The Birth Of Cool" e se afundou na heroína. Em 1955, juntou-se a John Coltrane, lançando as bases do que viria ser chamado de fusion.
Insatisfeito com o que fazia - apesar de ser sempre um sucesso - Miles Davis passou a tocar com o pianista Herbie Hancock (o mesmo que já estraçalhou no Brasil com o Free Jazz). A partir dessa nova fusão, discos como "Files De Kilimanjaro" mudaram a música americana, ativando um processo que culminou com "In A Silent Way" e "BitBitches Brew". Para se ter uma noção dos músicos que foram influenciados por este som, temos, entre outros, Chick Corea, Joe Zawinul e John McLauglin, todos, feras do Jazz mundial.
Antes de sua morte, Miles Davis tinha se tornado parceiro do jovem baixista Marcus Miller, trafegando pelo pop, o rap e a world music, com a desenvoltura de sempre.
O disco que dá a melhor noção da qualidade e do potencial de Davis, sem dúvida, é "Kind of Blues". Segundo palavras do próprio Miles Davis, em entrevista à revista People, "Kind of Blues seria talvez o disco a exercer a maior influência na história do jazz". Esse álbum representou o amadurecimento de Davis como líder de banda.
Talvez, o grande barato de Kind of Blues, seja o fato de ter sido esse o primeiro disco totalmente improvisado da história. No texto da contracapa, o produtor - e músico - Bill Evans explica que Davis só apresentou o "esqueleto" de cada tema, isso, apenas alguns instantes antes da gravação. E isso não era tudo, Evans ficou impressionado, motivo: nenhum dos cinco temas do disco jamais tinham sido se quer ensaiados com o restante da banda!
Os músicos, um capítulo à parte. Com categoria, completam a textura metálica dos sopros, os saxes de Cannobal Adderly (alto) e o genial John Coltrane (tenor). Bill Evans é o pianista em todas as faixas, exceto em "Freddie Freeloader", que conta com a participação de Win Kelly. Completando a banda, Paul Chambers (baixo) e James Cabb (bateria), não fazem mais do que armar a cama para os metais e o piano, criando um som com uma calma peculiar, enfim, o puro Cool Jazz.
Das cinco faixas do CD (seis no CD importado, que traz uma bonus track de "Flamenco Sketches", com uma versão mais alternativa) os maiores destaques são: "Blue In Green", "All Blues" e "Flamenco Sketches". Kind of Blues foi o primeiro CD que comprei na vida. E será o meu CD eterno, como Miles Davis.

quinta-feira, julho 27, 2006

Tecnocratas

Amigos que atuam na assessoria de imprensa da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) estão, de certa forma, com seus empregos ameaçados. Entre esses, Helton Fraga. Helton é um dos meus poucos amigos. Amigo do peito. Padrinho de casamento. Jornalista impecável, de grandes matérias nos jornais O DIA e Brasil, como, entre outras, a cobertura do ônibus 174, no Rio. Há alguns anos, de tanto elaborar pautas e matérias que desvendavam os bastidores do poder da CSN, Helton foi convidado pela então gerente de comunicação, Mariza Louvan, para fazer parte da, na época, excelente equipe de comunicação da empresa.
Agora, por mais uma decisão do empresário Benjamin Steinbruch, Helton e os demais da comunicação terão de optar: ou aceitam ser transferidos para São Paulo, ou rua. Com salários dígnos e numa empresa de respeito, a decisão parece simples. Pelo menos na cabeça dos tecnocratas da CSN.
Acontece que meu amigo Helton, e mais cerca de 600 funcionários de outros diversos setores além da comunicação terão que fazer, na verdade, outra opção: ou continuam com seus empregos, ou largam toda uma vida construída em Volta Redonda para ir, de rompante, para São Paulo.
Os filhos deixam as escolas, os amigos. Eles próprios deixam os amigos, as famílias. E as casas. E os empregos das esposas ou dos maridos. Ou as próprias esposas ou maridos. Ou os próprios filhos...
E isso tudo por causa de uma decisão feita numa sala de reuniões qualquer a cerca de 400 kms da fábrica. Se acham que é bom para a empresa, que se danem as pessoas. E ainda diziam que a praga da humanide era o Socialismo.

domingo, julho 23, 2006

Contra ou a favor?

O Senado aprovou (em 4/7) projeto que dá nova redação ao Decreto-Lei 972/1969, que regulamenta o exercício do jornalismo. Para entrar em vigor, o documento depende da sanção do presidente da República [ver abaixo a íntegra do texto]. Oriundo da Câmara dos Deputados, o projeto é assinado pelo Pastor Amarildo (PSC-TO), um dos parlamentares acusados de pertencer à máfia dos sanguessugas. O texto é defendido pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e rebatido por entidades patronais, de radialistas e de relações-públicas.
Reunido em Ouro Preto (MG), de 5 a 8/7, o 32º Congresso Nacional de Jornalistas, convocado pela Fenaj, aprovou a reformulação da proposta de criação do Conselho Federal de Jornalismo, agora com a denominação de Conselho Federal dos Jornalistas (CFJ). A decisão ratificada pelo congresso da categoria reitera que:
"Apesar de ser uma profissão regulamentada, os jornalistas ainda não conquistaram o direito de se organizar e de criar o seu próprio órgão de normatização e fiscalização do exercício profissional. É esse direito que a categoria, por meio da Fenaj e dos Sindicatos de Jornalistas de todo País, reivindicam ao propor a criação do Conselho Federal dos Jornalistas. A ausência de um Conselho é uma lacuna que precisa ser preenchida. Essa lacuna permite uma distorção na legislação brasileira, que é a concessão dos registros profissionais de jornalistas pelo Ministério do Trabalho. Como tem o controle sobre os registros dos jornalistas, também cabe ao Ministério do Trabalho – através das DRTs – a fiscalização do exercício irregular da profissão. (...) O CFJ será órgão autônomo a serviço da categoria e da sociedade. Seu propósito não é – nem poderia ser – o de impor limites, entraves, controles sobre o exercício da liberdade de expressão ou de imprensa. Seu propósito é a defesa da profissão e do profissional jornalista, como agente público capacitado para a produção de informação qualificada, democrática e ética".

***

PROJETO DE LEI Nº , DE 2003
(Do Sr. Pastor Amarildo)

Altera dispositivos do Decreto-lei nº 972, de 17 de outubro de 1969, que "dispõe sobre o exercício da profissão de jornalista."
O Congresso Nacional decreta:
Art. 1º Os arts. 2º, 4º, § 1º, "a", e 6º do Decreto-lei nº 972, de 17 de outubro de 1969, passam a vigorar com a seguinte redação:
"Art. 2º A profissão de jornalista compreende, privativamente, o exercício, por meio de processos gráficos, radiofônicos, fotográficos, cinematográficos, eletrônicos, informatizados ou quaisquer outros, por quaisquer veículos, da comunicação de caráter jornalístico nas seguintes atividades, entre outras:
I – direção, coordenação e edição dos serviços de redação;
II – redação, condensação, titulação, interpretação, correção ou coordenação de texto a ser divulgado, contenha ou não comentário;
III – comentário, narração, análise ou crônica, pelo rádio, pela televisão ou por outros veículos da mídia impressa ou informatizada;
IV – entrevista, inquérito ou reportagem, escrita ou falada;
V – planejamento, organização, direção e eventual execução de serviços técnicos de jornalismo, como os de arquivo, pesquisa, ilustração ou distribuição gráfica de texto a ser divulgado;
VI – planejamento, organização e administração técnica dos serviços de que trata o inciso II;
VII – ensino de técnicas de jornalismo;
VIII – coleta de notícias, informações ou imagens e seu preparo para divulgação;
IX – revisão de originais de matéria jornalística, com vistas à correção redacional e a adequação da linguagem;
X – organização e conservação de arquivo jornalístico, e pesquisa dos respectivos dados para a elaboração de notícias, comentários ou documentários;
XI – execução da distribuição gráfica de texto, processamento de texto, edição de imagem, fotografia ou ilustração de caráter jornalístico;
XII – execução de desenhos artísticos ou técnicos de caráter jornalístico;
XIII – elaboração de texto informativo ou noticioso para transmissão através de teletexto, videotexto ou qualquer outro meio;
XIV – assessoramento técnico na área de jornalismo." (NR)
"Art. 4º ....................................................................................
§ 1º .........................................................................................
a) colaborador com registro especial, assim entendido aquele que, sem relação de emprego e prestando serviço de natureza eventual, oferece colaboração sob forma de trabalhos de natureza técnica, científica ou cultural, exclusivamente em forma de análise e relacionados com a sua especialização, sendo obrigatória a divulgação do nome e qualificação do autor." (NR)
"Art. 6º As funções desempenhadas pelos jornalistas profissionais, como empregados, serão classificadas em:
I – Editor Responsável: o profissional responsável pela edição de jornais, revistas, periódicos de qualquer natureza, por agências de notícias e serviços de notícias, reportagens, comentários, debates e entrevistas em empresas de radiodifusão e outras onde sejam exercidas atividades jornalísticas;
II – Editor de Jornalismo: o profissional incumbido de coordenar e eventualmente executar, de forma geral, os serviços de redação e os de natureza técnica, também denominado de Secretário de Redação;
III – Subdiretor de Jornalismo: o profissional incumbido de coordenar e eventualmente executar ou substituir o Diretor de Jornalismo, também denominado de Subsecretário de Redação:
IV – Coordenador de Reportagem: o profissional incumbido de coordenar todos os serviços externos de reportagem, também denominado de Chefe de Reportagem;
V – Pauteiro: o profissional encarregado de elaborar e organizar, junto com a coordenação de reportagem, a pauta de orientação dos repórteres, realizando os contatos auxiliares à execução da tarefa;
VI – Coordenador de Revisão: o profissional incumbido da coordenação geral dos serviços de revisão, eventualmente desempenhando também a tarefa de revisor;
VII – Coordenador de Imagens: o profissional incumbido de coordenar os serviços relacionados com imagem fotográfica, cinematográfica, videográfica, inclusive pelo processo informatizado ou assemelhado;
VIII – Editor: o profissional incumbido de coordenar e eventualmente executar a edição de matéria ou programa jornalístico, titulando-a tecnicamente para a publicação ou divulgação, bem como o que desempenha a função de editor de som e de imagem das matérias jornalísticas, através de qualquer processo, e o responsável por setores ou seções específicas de edição de texto, arte, fotos, tapes, filmes ou programas jornalísticos;
IX – Coordenador de Pesquisa: o profissional encarregado de coordenar a organização da memória jornalística, de bancos de dados ou de arquivos;
X – Redator: o profissional que, além das incumbências de redação comum, tem o encargo de redigir editoriais, crônicas ou comentários;
XI – Noticiarista: o profissional que tem o encargo de redigir textos de caráter informativo, desprovidos de apreciação ou comentários, preparando-os para divulgação;
XII – Repórter: o profissional que cumpre a determinação de colher notícias ou informações, preparando-as para divulgação, a quem cabe a narração ou difusão oral de acontecimentos ou entrevistas pelo rádio, televisão ou processo semelhante, no instante ou no local em que ocorram, ou executam a mesma atribuição para posterior edição e divulgação;
XIII – Comentarista: o profissional que realiza avaliação, comentário ou crônica dentro de sua especialidade pelo rádio, televisão ou processo semelhante;
XIV – Arquivista-Pesquisador: o profissional incumbido da organização técnica da memória jornalística, banco de dados ou arquivo redatorial, fotográfico e de imagens, realizando a pesquisa dos respectivos dados para a elaboração de notícias, memórias ou programas jornalísticos;
XV – Revisor: o profissional incumbido da revisão, através de processos tradicionais ou eletrônicos de matéria jornalística, tendo em vista a correção redacional e adequada da linguagem;
XVI – Repórter-Fotográfico: o profissional com a incumbência de registrar ou documentar fotograficamente, quaisquer fatos ou assuntos de interesse jornalístico;
XVII – Repórter-Cinematográfico: o profissional a quem cabe registrar ou documentar cinematograficamente, quaisquer fatos ou assuntos de interesse jornalístico;
XVIII – Diagramador: o profissional encarregado do planejamento e execução da distribuição gráfica ou espacial, por meio de processo tradicionais, ou eletrônicos, ou informatizados, de matérias ou textos, fotografias ou ilustrações de caráter jornalístico, para fins de publicação;
XIX – Processador de Texto: o profissional encarregado da elaboração de texto ou informação jornalística por meios eletrônicos de impressão, reprodução de fac-símiles ou assemelhados, quer para a pesquisa em arquivos eletrônicos ou não, quer para a divulgação por qualquer meios;
XX – Assessor de Imprensa: o profissional encarregado da redação e divulgação de informações destinadas a publicação jornalística, que presta serviço de assessoria ou consultoria técnica na área jornalística a pessoas físicas ou jurídicas, de direito privado ou público, relativos ao acesso mútuo entre suas funções, a preparação de textos de apoio, sinopses, súmulas, o fornecimento de dados e informações solicitadas pelos veículos de comunicação e edição de periódicos e de outros produtos jornalísticos;
XXI – Professor de Jornalismo: o profissional incumbido de lecionar as disciplinas de jornalismo de caráter profissionalizante, e natureza teórica ou prática;
XXII – Ilustrador: o profissional encarregado de criar ou executar desenhos artísticos ou técnicos, charges ou ilustrações de qualquer natureza para matéria ou programa jornalístico;
XXXIII – Produtor Jornalístico: o profissional que apura as notícias, agenda entrevistas e elabora textos jornalísticos de apoio ao trabalho da reportagem.
Parágrafo único. Também serão privativas de jornalista profissional as funções de confiança pertinentes às atividades descritas neste artigo, bem como quaisquer outras chefias a elas relacionadas."

Pacto

Será possível tirar a questão da violência dos palanques eleitorais? Em outras palavras: a mídia conseguirá convencer as forças políticas para juntarem-se num pacto contra o poder do narcotráfico? Você já ouviu estas perguntas aqui. E foi muito recentemente, logo depois da primeira ofensiva do PCC na ocasião. A conclusão dos participantes foi unânime: a idéia é generosa mas em eleição todos querem brigar.
Isso foi há seis semanas. Depois da segunda ofensiva do PCC os diversos candidatos ficaram ainda mais excitados e serviram-se da situação reinante para deflagrar uma guerra aberta.
A reação da imprensa foi quase imediata: em editoriais ou artigos assinados começaram a aparecer manifestações, embora isoladas e discretas, mas decididamente contra a exploração eleitoral da crise paulista. Um seminário em Madrid na semana passada serviu para lembrar aos jornalistas brasileiros lá presentes o histórico pacto de Moncloa que pavimentou a transição espanhola da ditadura franquista para a democracia plena e a prosperidade.
Por isso voltar ao assunto hoje: será que o eleitor quer ouvir esta lavagem de roupa suja sobre a situação dos presídios e o crescimento do narcotráfico ou prefere ver os governos e os partidos trabalhando juntos e imediatamente para o restabelecimento do estado de direito? Nossa cultura política só admite enfrentamentos radicais ou já está pronta para começar a pensar em tréguas ou coalizões?

domingo, julho 16, 2006

Notícias enganosas

Os jornais americanos fazem praça da existência de um fosso intransponível entre a página de editoriais e todas as outras.
O fosso é para impedir que a voz dos donos ecoe no noticiário – nas pautas, na apuração, na edição e na apresentação das matérias. Em suma, o que entra e como entra é de responsabilidade exclusiva dos executivos da redação.
Nem sempre o fosso é tão fundo como dizem, mas que existe, existe. O caso do Wall Street Journal é de livro de texto.
Os seus editoriais de apoio fervoroso ao governo Bush e as suas reportagens investigativas sobre as maracutaias do bushismo, os desastres da guerra no Iraque e as ilegalidades da Casa Branca em nome da guerra ao terror parecem pertencer a galáxias diferentes.
Ainda há pouco, o jornal, no mesmo dia que o New York Times e o Los Angeles Times, revelou que o governo espionava criminosamente zilhões de transações financeiras internacionais, a pretexto de rastrear o dinheiro da Al Qaeda.
Assim que Bush disse que a publicação equivalia a um ato de traição ao país, o Wall Street Journal saiu com um editorial – em apoio ao presidente e desancando a sua própria matéria.
Quem dera as redações brasileiras terem a independência de suas congêneres americanas em relação aos controladores das empresas jornalísticas.
Mas, uma vez na vida – no caso, hoje – vem a tentação de dizer quem dera se a posição de um jornal diante de um assunto pautasse o tratamento que lhe fosse dado nas páginas noticiosas.

E no Brasil acontece o mesmo. Veja por exemplo o caso da violência do PCC em São Paulo. Os jornalões paulistas e, principalmente, a Globo, procuram exaltar somente a suposta coragem de um povo paulista entregue ao desgoverno e aos descaso político. Não se pode expor as feridas de um sistema podre. Ainda mais quando o ex-governador de São Paulo busca a Presidência da República.
Os editoriais, assim como as matérias, apenas procuram aniquilar as ações do PCC, coisa que deveria ser feita pelos governantes, que, no máximo, aplaudem as manchetes.

quinta-feira, julho 13, 2006

Doença de jornalista

Síndrome de Burnout

"Burnout', síndrome do estresse excessivo no trabalho, pode colocar uma carreira em risco

Você anda se irritando à toa no trabalho? Só consegue tratar os colegas ou clientes com cinismo? Está se sentindo sem estímulo, sem vontade de ir ao serviço e acha que tudo o que produz está ruim? Cuidado, pois você pode estar sofrendo de síndrome do esgotamento profissional, também conhecida como 'burnout'.
Professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) e especialista em psicologia organizacional e do trabalho, Carmem Lucia Arruda Rittner conta que os sintomas do esgotamento profissional não aparecem de uma hora para outra, mas muitas pessoas não se dão conta de que estão sofrendo do mal.
Segundo Carmem Lúcia, alguns dos fatores que podem desencadear o 'burnout' estão justamente no ambiente de trabalho, como a competição, o excesso de horas trabalhadas e a sobrecarga de serviço. As mudanças são, segundo a professora da PUC, alguns dos elementos que mais levam à síndrome. As mudanças não precisam ser, necessariamente, de cidade, mas até de funções ou adaptações a novas tecnologias.
Nesse aspecto, garante a psicóloga, o 'burnout' é particularmente perverso em países como o Brasil. 'Temos empresas modernas, que estão se desenvolvendo tecnologicamente, mas um sistema educacional não tão moderno assim.' Com isso, diz, o profissional tem de procurar especialização para manter o cargo, se sobrecarregando.
A psiquiatra Aida Cristina Suozzo, da Santa Casa de São Paulo, conta que as profissões mais vulneráveis são as que envolvem serviços, tratamento e educação. De acordo com a psiquiatra, a síndrome tem três dimensões: a exaustão emocional (falta de energia), despersonalização (tratar colegas e clientes como objetos) e a diminuição da realização pessoal no trabalho.
Os sintomas psíquicos, segundo a médica, vão de tristeza e baixa auto-estima a impaciência e problemas de concentração. Já os comportamentais incluem abuso de álcool, agressividade e isolamento social, entre outros.
Aida afirma que alguns portadores da síndrome chegam a abandonar os cargos após anos de investimento na carreira e também levam o problema para o ambiente familiar. Para ela, é importante que os trabalhadores identifiquem as causas e conseqüências e procurem ajuda. Técnicas de relaxamento, diz ela, também podem ajudar.
Presidente da Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan, a professora Maria Angela Soci conta que muitos médicos encaminham pacientes com esgotamento profissional para as aulas como modo de relaxamento, mas há quem chegue lá por iniciativa própria.
Segundo Maria Angela, o tai chi, concebido como arte marcial, ensina a manter equilíbrio e paciência para uma 'batalha'. 'É isso que a pessoa acaba levando para o trabalho, conseguindo mudar atitudes mesmo sem alterar o ambiente', diz.(Eduardo Vallim)

SINTOMAS

Esgotamento emocional; Desenvolvimento de atitudes negativas, de insensibilidade ou de cinismo com colegas no trabalho; Sintomas físicos de estresse, tais como cansaço e mal-estar geral ; Manifestações emocionais como falta de realização pessoal, tendências a avaliar o próprio trabalho de forma negativa, vivências de insuficiência profissional, sentimentos de vazio, esgotamento, fracasso e impotência; Irritabilidade, inquietude, dificuldade para a concentração; Baixa tolerância à frustração, comportamento paranóides ou agressivos


MANIFESTAÇÕES
COMPORTAMENTAIS

Consumo excessivo de café, álcool, remédios e drogas ilegais; Baixo rendimento pessoal, distanciamento afetivo dos clientes e companheiros como forma de proteção do ego; Aborrecimento constante; Atitude cínica, impaciência e irritabilidade; Sentimento de onipotência, desorientação; Sentimentos depressivos, freqüentes conflitos interpessoais no ambiente de trabalho e na família


FATORES DESENCADEANTES

Sobrecarga de trabalho, com agentes estressores como urgência de tempo, responsabilidade excessiva, falta de apoio e expectativas excessivas de nós mesmos e daqueles que nos cercam; Falta de estímulos; Alterações do sono pelos horários de trabalho, viagens e variações do ritmo das atividades sociais; Falta de perspectivas; Mudanças constantes, como as determinadas pela empresa com a chegada de uma nova chefia ou às devidas a novas tecnologias ou às impostas pelo mercado, entre outras; Horas trabalhadas ininterruptamente


Fonte: Folhapress

segunda-feira, julho 03, 2006

Que sentimento é esse?

Semana passada, pela primeira vez em minha vida, senti ódio de uma pessoa. Uma daquelas que encontram prazer em ver o outro sentindo-se mal. Nunca mais quero sentir isso. Que sentimento é esse? Que Deus abençoe a outra pessoa. Ela não é problema meu!

Onde estás?!

Tenho sentido muito a falta de Deus em minha vida. A culpa é toda minha. Afastei-me. Dei de ombros. Preciso de Ti, Senhor! Onde estás?! Cuida de mim!

Cafu

Ontem, em entrevsta ao Fantástico, Cafu disse que "ainda não sabe" se poderá estar ou não na Copa de 2010, na África do Sul. Até lá, Cafu estará com 41 anos. O lateral foi o pior jogador do confronto contra a França. E pior da Seleção em toda a Copa. Mas a culpa não é somente dele. Parreira não deveria sequer chamá-lo.
Mas Cafu, contudo, é a prova viva da mediocridade humana. Nem na hora da derrota deixou de pensar somente em si. Seu objetivo não era a vitória de um grupo, de um país. Queria apenas bater recordes e ser o "maior" de todos os tempos. Aquele que em 2002 revelou-se "o bom menino", que mantém instituições de caridade num bairro pobre de São Paulo, o Jardim Irene, de onde saiu, agora revela-se um homem egoísta, e sem desportividade. Como a maioria de nós.

Privacidade?

Leitura labial é invasão de privacidade? Aquele quadro do Fantástico onde os especialistas em leitura labial revelaram os comentários do técnico Parreira constitui uma quebra da sua intimidade?
O técnico estava ou não estava num evento público? Se ele por acaso enfiasse o dedo no nariz e as teleobjetivas dos fotógrafos o flagrassem, seria uma infração?
E o caso da vedete David Beckham, que passou mal no jogo com o Equador? A foto apareceu em todos os jornais do mundo e ninguém reclamou. Nem o próprio.
Ao contrário do que durou o futebol da Seleção, a discussão sobre a quebra ou não da privacidade está longe de acabar.