quarta-feira, agosto 30, 2006

De novo...

Quatro meses depois de publicar um alentado informe especial sobre o jornalismo na internet, o semanário britânico The Economist volta à mídia esta semana com a matéria de capa de três páginas compactas "Quem matou o jornal?" e um editorial cujo título repete a pergunta da chamada.
A revista deixa claro de saída, portanto, que o jornal morreu. "É só uma questão de tempo", prevê o editorial, para que os diários "comecem a fechar em grande número". Impossível não lembrar de Mark Twain. Quando o escritor americano leu que tinha falecido, comentou que a notícia era "ligeiramente exagerada".
Mas como o papel aceita tudo, vamos em frente. A Economist traz os principais indicadores dos padecimentos da tradicional mídia impressa diária – leitores, receitas publicitárias, jornalistas empregados e matérias exclusivas em queda, preferência esmagadora do público jovem pela internet, interesse crescente dos anunciantes pelas edições online dos periódicos e – o que seria o tiro de misericórdia – a proliferação explosiva de jornais gratuitos para serem lidos nos metrôs e ônibus.
A tiragem somada dos metros, como são chamados, é da ordem de 28 milhões de exemplares, informa a reportagem – o equivalente, na Europa, a 16% de toda a circulação diária. Até o Le Monde vai lançar um. Para fazer um metro para 100 mil leitores bastam em média 20 jornalistas – nove vezes menos do que para fazer um equivalente pago.
Claro: este último não só traz "n" vezes mais notícias, como se trata de notícias que requerem muito mais apuração e informações que lhe dêem contexto.
A revista cita o sueco Pelle Törnberg, que inventou o gênero, em 1995. "O maior inimigo dos jornais pagos é o tempo", diz ele.
É uma verdade superficial – e a matéria da Economist é mais uma a não ir além da superfície no diagnóstico da crise dada como terminal do jornalismo diário.

Audiências em queda

O texto constata o desencontro entre o que a maioria dos leitores quer e aquilo a que os jornais convencionais dão mais importância. O editor do Zero Hora, de Porto Alegre, Marcelo Rech, conta que o jornal pesquisa diariamente a opinião de 120 leitores. O recado é claro. "Eles geralmente querem mais suplementos como os que temos sobre culinária e moradia", diz o editor, "e menos Hezbollah e terremotos".
Isso bate com os resultados de sondagens em muitos países. "As pessoas gostam de matérias curtas e notícias que lhes sejam relevantes, como relatos locais, esportes, entretenimento, tempo e tráfego", nota a Economist. E cada vez mais recebem isso da internet.
A expressão-chave, que abre todo um campo de indagação, inexplorado pela matéria, é "notícias que lhes sejam relevantes".
Por que "relatos locais, esportes, entretenimento, tempo e tráfego" e não, também ou mais ainda, o Hezbollah do exemplo de Marcelo Rech?
Porque, desde a última década, vem aumentando muito o número de assuntos em relação aos quais uma parcela cada vez maior de pessoas – jovens adultos, especialmente – se pergunta: "E eu com isso?"
A tendência parece irrefutável. Os motivos é que são elas. Uma hipótese a levar em conta é a de que se vive um período de declínio do interesse pela esfera pública e de aumento intenso de interesse pela vida particular.
Isso pode, ou não, ter relação com o "fim da história" do precipitado Francis Fukuyama. Os conflitos ideológicos que marcaram o século 20 e a Guerra Fria bem ou mal como que obrigavam um número de pessoas proporcionalmente maior do que hoje, nos mesmos países, a se informar sobre o proverbial "o que vai pelo mundo".
Política, governo, relações internacionais, economia – que ainda encabeçam a hierarquia do noticiário e das pensatas do jornalão típico – não eram assim de se dar as costas. Mesmo com o advento da televisão, o jornal tradicional continuou a ser a ponte por excelência entre o grande mundo e o pequeno mundo.
E a mesma hierarquia foi adotada pelos telejornais de começo da noite das grandes redes americanas. E não há de ter sido por razões diferentes daquelas que afetaram o jornalismo diário impresso que a sua audiência caiu acentuadamente. Idem para a queda de audiência da emissora que nasceu para dar notícias 24 horas por dia – a CNN.
A propósito, comparem-se as pautas dos "Evening News" da ABC, CBS e NBC de 20 anos atrás com as de hoje. É a supremacia do que antigamente se chamava fait-divers, do paroquial e do "lado humano". Mesmo a economia é cada vez menos economia e cada vez mais finanças pessoais.

A verdade é que sempre que ouço esse papo fico igual a planeta rebaixado: plutão!

terça-feira, agosto 29, 2006

Pasquim

Site cataloga coleção
completa do "Pasquim''

Enquanto revistas antigas são geralmente malconservadas e pouco lidas nas bibliotecas e acervos, um jornalista/ historiador/webdesigner passa as noites em claro para disponibilizar on-line e gratuitamente edições de "O Cruzeiro'', "Careta'' e "O Malho'' -publicações que marcaram a história da imprensa no século 20. Criador do site Memória Viva (www.memoriaviva.com. br) há oito anos, Sandro Fortunato prepara uma nova empreitada: um gigantesco banco de dados digital em que tudo o que já foi escrito, citado e desenhado no "Pasquim'' poderá ser localizado por internautas. Com a autorização de Ziraldo, Ivan Cosenza (filho de Henfil), Luiz Carlos Maciel e outros colaboradores do periódico, aos poucos Fortunato transforma em arquivo digital a coleção completa do "Pasquim'', semanário editado entre 1969 e 1991 e famoso pela contestação à ditadura militar. A coleção foi doada em maio deste ano pelo mineiro Rogério Gomes. Se Sandro mora em Brasília e a coleção estava em Juiz de Fora (MG), não teve problema: pegou um ônibus e em menos de 24 horas trouxe para seu apartamento em Brasília cerca de 300 quilos de jornal -mais de mil exemplares. "Cheguei na rodoviária com 16 sacos de lixo lotados. O motorista me disse: "Olha, você precisa transformar isso tudo em quatro volumes. Dois deles você tem direito a levar, o menor eu vou te cobrar, e o quarto eu finjo que não vi'.'' Depois da "travessia'', a coleção começa a chegar à internet na semana que vem, no dia 4 de setembro, com os 50 primeiros números digitalizados. Carioca de 34 anos, Fortunato já viveu no Rio, em Natal, em Brasília. Embora dedique a maior parte de seu tempo ao Memória Viva, trabalha num portal particular para tirar seu sustento. "O Memória Viva nunca teve patrocinador, não cobra por acessos'', diz o jornalista, cuja coleção tem cerca de 9.000 jornais e revistas. "O site surgiu da constatação de que a web brasileira, assim como o próprio país, não costuma preservar sua memória.'' No início, a página reunia biografias de personalidades da história e da cultura do país. O trabalho com a imprensa só começou em 2002. "Quando precisei de fotos de Juscelino Kubitschek, tive a oportunidade de ter em mãos 40 edições da revista "O Cruzeiro''. Em pouco tempo estaria no ar um setor voltado exclusivamente para a revista. Em 2005, o site foi vencedor do Prêmio Ibest de Arte e Cultura e hoje recebe cerca de 2.000 visitas diárias. Direitos Autorais Para disponibilizar "O Pasquim'', Fortunato procurou os colaboradores e pediu a liberação do material; mas e quanto à revista "O Cruzeiro''? "Até hoje existe briga na família do [Assis] Chateaubriand pela fortuna dos "Diários Associados', da qual "O Cruzeiro' fazia parte. Mas a coisa é ainda mais complicada: quando vou publicar uma matéria, o direito é de quem escreveu ou do jornal que publicou? Em relação às fotos, tem o direito do fotógrafo, do veículo e de quem aparece. Ou você faz como eu fiz -vai colocando no ar- ou então não faz nunca.'' Fortunato argumenta que seu trabalho é de interesse histórico e sem fins lucrativos. "Se alguém se achar ofendido ou pedir para não publicar algo, tiro do ar na hora'', diz, fugindo da encrenca judicial -nunca foi processado. "Em geral, acontece o contrário: muitos fotógrafos da época entraram no site e ficaram fascinados: "Puxa, obrigado, alguém prestou atenção e preservou no nosso trabalho'.''

Fonte: Folhapress

sábado, agosto 26, 2006

Intolerância

O goleiro polonês Boruc, que defende o Celtic, foi advertido pela polícia da Escócia por "atentar contra a paz", devido ao fato de ter feito o sinal-da-cruz durante um clássico contra o Rangers no último mês de fevereiro.
O confronto entre as duas maiores equipes do país também tem cunho religioso: enquanto o Celtic adota a religião católica, o Rangers é adepto da protestante. O gesto de Boruc teria agitado a torcida do Rangers, que jogava em sua casa, o Estádio Ibrox.
A advertência gerou revolta por parte da Igreja Católica da Escócia. O porta-voz Peter Kearney achou lamentável a advertência ao jogador. Para ele, o sinal-da-cruz é aceito globalmente como gesto de reverência religiosa e não deveria causar qualquer tipo de punição a Boruc.

sexta-feira, agosto 25, 2006

Mother do you think they'll drop
the bomb?
Mother do you think they'll like this song?
Mother do you think they'll try to break my balls?
Mother should I build the wall?
Mother should I run for president?
Mother should I trust the government?
Mother will they put me in the firing line?
Mother is it just a waste of time?

Hush now baby, baby, dont you cry.
Mother's gonna make all your nightmares come true.
Mother's gonna put all her fears into you.
Mother's gonna keep you right here under her wing.
She wont let you fly, but she might let you sing.
Mama will keep baby cozy and warm.
Ooooh baby ooooh baby oooooh baby,
Of course mama'll help to build the wall.

Mother do you think she's good enough -- to me?
Mother do you think she's dangerous -- to me?
Mother will she tear your little boy apart?
Mother will she break my heart?

Hush now baby, baby dont you cry.
Mama's gonna check out all your girlfriends for you.
Mama wont let anyone dirty get through.
Mama's gonna wait up until you get in.
Mama will always find out where you've been.
Mama's gonna keep baby healthy and clean.
Ooooh baby oooh baby oooh baby,
You'll always be baby to me.

Mother, did it need to be so high?

Roger Waters

quinta-feira, agosto 24, 2006

Profissão perigo

Jornalista de O Dia é ameaçada e obrigada a esconder-se

Repórteres sem Fronteiras está consternada com as ameaças de que vêm sendo vítimas, desde 15 de agosto, a jornalista de O Dia, Maria Mazzei, e sua família. Essas intimidações ocorreram após a publicação de reportagens sobre o tráfico de corpos humanos no Rio de Janeiro. Os artigos afirmavam que funcionários do Instituto Médico-Legal (IML) vendiam cadáveres à "Máfia dos Corpos".
"Estamos profundamente inquietos com esses atos reiterados de violência contra jornalistas brasileiros que realizam inquéritos sobre casos `delicados´ e, mais particularmente, depois que Maria Mazzei foi obrigada a esconder-se em virtude de ameaças. Pedimos que as autoridades locais e federais identifiquem o quanto antes os autores dessas intimidações. Urge que o Estado reaja frente ao aumento da violência, para que a profissão de jornalista possa ser exercida livremente e sem temor. Lembramos que esse caso está acontecendo depois do final do seqüestro, em São Paulo, do jornalista da TV Globo, Guilherme Portanova, e do técnico Alexandre Coelho", declarou Repórteres sem Fronteiras.
Maria Mazzei, jornalista do diário carioca O Dia, escreveu várias reportagens sobre a "Máfia dos Corpos", revelando roubos de cadáveres utilizados em golpes contra seguradoras. Em 12 de agosto, Maria tinha entrevistado um antigo oficial da Marinha Mercante, Yussef Georges Sarkis, 52 anos, acusado de ter simulado a própria morte para receber cerca de 1 milhão de reais do seguro de vida. A entrevista foi gravada e nela Yussef chegou até a declarar que, entre seus amigos, havia seqüestradores e policiais.
Após a publicação dos artigos, a jornalista começou a receber ameaças por telefone, e os vizinhos declararam ter visto, por várias vezes, um automóvel suspeito passar por seu domicílio. O Dia comunicou o fato às autoridades policiais e transferiu a jornalista e sua família, escoltadas pela polícia, para um lugar seguro.
Na segunda-feira (15/8/), o jornal enviou carta ao Secretário de Segurança, Roberto Precioso: "O jornal tomou todas as medidas ao seu alcance, mas questões de segurança competem direta e definitivamente ao Estado, e cabe a ele, agora, garantir a proteção constante de Maria Mazzei e sua família, até que os criminosos envolvidos nesse caso sejam presos e entregues à Justiça". Roberto Precioso considerou as ameaças como inaceitáveis e afirmou que a polícia identificaria os responsáveis.
Entre as pessoas implicadas no caso, haveria funcionários do Instituto Médico-Legal, agentes funerários e especialistas em golpes contra seguradoras.


Fonte: Repórteres Sem Fronteira

quarta-feira, agosto 23, 2006

Filosofia(s)

A seguir algumas frases que li na internet e que as coloco aqui porque, de alguma forma, encaixam-se perfeitamente na rotina de um jornalista:

* O excesso de formalidade acaba com a melhor das intenções.

* No seu trabalho, parta da premissa que ali você só encontra colegas – jamais amigos.
* O mundo gosta de tristeza e tragédia no primeiro dia. A partir do terceiro, vira notícia velha.
* Toda história tem mais de um lado, cabe a você decidir quantos quer conhecer.
* Seja independente a ponto de poder mandar à merda quem te encher o saco.
* A verdade, nada mais do que a verdade.
* Só sabe o que acontece quem está dentro da história.
* As moedas que você deixa cair de farra no cofrinho de lata dos seus filhos podem ser a passagem de ônibus no fim do mês.
* Seu passado é seu patrimônio. Não o jogue fora – até porque não adianta: ele sempre volta.
* Não pense muito: faça.

terça-feira, agosto 22, 2006

Bomba global

O seqüestro do repórter da TV Globo Guilherme Portanova e do auxiliar técnico Alexandre Calado foi mais complicado do que se pode pensar num primeiro momento. A libertação de Calado com uma gravação a ser veiculada para que o repórter fosse solto foi uma ação muito ousada. Só me lembro de ter visto algo parecido nas ações de terroristas islâmicos, que inclusive financiam algumas emissoras do mundo árabe. A gravação foi ao ar na íntegra apenas para o estado de São Paulo.
Minha preocupação aqui não é com a ação em si. Apesar de ousada, não é difícil de ser feita, pois existem diversos repórteres da Globo nas ruas todos os dias. A reflexão que faço é com relação à veiculação da fita. Pior do que tomar a decisão foi o pouco tempo que a Globo teve para agir. Havia uma ameaça clara à vida de uma pessoa. A veiculação era condição para a liberdade de Portanova. Diante dessa pressão, a Globo cedeu. Segundo a própria emissora, o conteúdo da fita foi analisado por autoridades, inclusive, e foi exibida, pela segunda vez, agora em rede nacional, editada e com uma narração, em vez da voz do bandido que aparecia na filmagem. Tudo para tentar conciliar os interesses dos bandidos e a libertação do jovem repórter. Essas atitudes surtiram efeito. Guilherme Portanova, por volta de 0h30 de segunda-feira (14/8), estava solto.

Pagamento de resgate

A situação, então, é grave. A veiculação foi uma espécie de pagamento de resgate. A Globo pode tentar minimizar isto, acalmar os ânimos, mas está aberto um precedente. A emissora cumpriu a ordem dos bandidos e o jornalista foi solto. E ela pode pagar uma conta muito alta por isso. Já imaginou se resolverem seqüestrar um jornalista sempre que quiserem dizer algo em horário nobre na maior emissora do país? Pronto. A bomba está nas mãos da Globo.
O terrorismo chegou à imprensa e atingiu de cara uma das instituições mais poderosas. Pensou-se muito no presente, que agora é passado, mas nada no futuro, que hoje é presente. O futuro é hoje. Amanhã. Cada dia que virá. Jornalistas viraram alvo de uma tortura psicológica. Se seqüestrarem outro profissional na semana que vem, a Globo começará o Fantástico com outro depoimento de marginal? Ou vai assumir a responsabilidade de negar a veiculação e encarar a possibilidade de perder uma vida? Entrou-se num caminho sem volta.

quarta-feira, agosto 16, 2006

Concentrando

Um comunicado com o título "Hoje é uma data importante para a mídia brasileira", assinado em conjunto pela Companhia Brasileira de Multimídia (CBM) e a Central Nacional de Televisão (CNT) e publicado na quarta-feira (9/8), pela Gazeta Mercantil, dava conta de que os dois grupos de mídia haviam construído uma "parceria para a programação, a gestão e a comercialização de produtos televisivos".
A CBM, do empresário Nelson Tanure, é proprietária da Gazeta Mercantil, do Jornal do Brasil, do JB Online e da Investnews. E a CNT, da família Martinez, é formada por uma rede de emissoras e retransmissoras de televisão que atingem 17 capitais e mais de 20 milhões de domicílios.
O comunicado antecipa "avançadas modalidades de convergência de mídia" e prevê que "ao longo dos próximos meses, todo o conteúdo da Rede seja produzido, programado e operado pela própria parceria".
Matéria publicada na Gazeta Mercantil informa que a sede da CNT mudará do Paraná para o Rio de Janeiro; que a gestão da rede passará à CBM; que uma nova empresa administradora será criada para gerir as atividades do grupo; que, em setembro, a logomarca da nova administradora e uma nova programação estarão no ar; e que a ênfase será o jornalismo, os serviços e o entretenimento.
Essa nova parceria confirma uma tendência à concentração da propriedade na área de mídia que, nos últimos anos, não vem acontecendo somente no Brasil. Pela ausência de legislação restritiva, o país, na verdade, sempre teve a mídia concentrada e, agora, avança tanto na concentração como na internacionalização.

Reutersgate

Após empreitada de blogueiros como Charles Johnson, dono do Little Green Footballs e primeiro a noticiar a manipulação de fotos da Reuters – caso já apelidado de Reutersgate, em alusão ao escândalo de Watergate do ex-presidente dos EUA Richard Nixon – iniciativas individuais para desmascarar uma mídia tendenciosa (ou facilmente enganadora) começaram a se espalhar para outras empresas de mídia. O episódio da Reuters culminou no encerramento do contrato com o fotógrafo Adnin Hajj, bem como a retirada de 920 fotos de sua autoria do acervo da agência.
Essa não foi a primeira campanha de Charles Johnson. Em setembro de 2004, pouco depois do programa da CBS 60 Minutes II que fez revelações bombásticas sobre o serviço militar do presidente George W. Bush no Texas, Johnson foi um dos primeiros a apontar problemas na reportagem. Fundamentado ou não, o argumento de Johnson foi suficiente para gerar debates na emissora e contribuiu para a aposentadoria do âncora Dan Rather.
Os casos "Reutersgate" e "Rathergate", segundo Paul Farhi [The Washington Post, 9/8/06], possuem uma característica comum: derivam do ceticismo, senão hostilidade de Johnson em relação à grande mídia. O blogueiro afirma que "o politicamente correto poupou a mídia de massa de boa parte das verdades mais duras".


Lista de manipulações continua crescendo

Segundo Sheera Chaire Frenkel [The Jerusalem Post, 11/8/06], mais de uma dúzia de acusações fundamentadas de encenação ou alteração de imagens foram divulgadas. Nenhuma, no entanto, recebeu a atenção devida. Companhias de renome, como New York Times, BBC e Associated Press, foram obrigadas a fazer recall de fotos ou mudar legendas devido a erros apontados primeiramente em fóruns online.
Algumas das imagens que estão sendo analisadas em blogs mundo afora incluem duas fotos usadas pela Associated Press e Reuters nas quais a mesma mulher aparece chorando sobre a destruição de sua casa em Beirute. Facilmente identificável pela cicatriz na bochecha direita e o cachecol avermelhado, ela aparece chorando em dois lugares diferentes, com duas semanas de distância entre uma foto e outra. A BBC, que utilizou essas fotos para ilustrar os horrores do conflito, retirou-as do seu site.
Várias fotografias de uma ponte bombardeada em Beirute, publicadas pela Reuters e AFP, traziam legendas que diziam que a mesma tinha sido explodida no dia 18/7, 24/7 e 5/8. De acordo com blogueiros, a imagem foi fotografada de forma a parecer ter sido tirada de diferentes bombardeios, acentuando uma aparência de que o estrago no Líbano foi maior do que na realidade.
O New York Times fez um ensaio fotográfico que exibe a imagem de um homem aparentemente morto, com a seguinte legenda: "Corpos ainda estavam enterrados sob os escombros". Mais adiante, na mesma série, o mesmo homem aparece caminhando pela área atingida. O jornal "corrigiu" a legenda da primeira foto, afirmando que o homem estava ferido.
O que faz esse conflito diferente de outros, como bem definiu Daryl Lang [Photo District News, 11/8/06], é a insistência e tenacidade desses críticos da mídia que podem abrir ao mundo suas revelações após intensa análise de fotos em baixa resolução disponíveis gratuitamente no Yahoo! ou Google. Fazem o trabalho de pequenos carpinteiros, emendando lá e cá os erros e tropeços de uma mídia que parece ter esquecido da responsabilidade que tem em conflitos como esse.

terça-feira, agosto 08, 2006

Companheiro Comandante!

Em um dos mais importantes momentos na história de Cuba, com o longevo e forte Fidel Castro transferindo o poder a seu irmão, jornalistas estrangeiros estão sendo proibidos de entrar na ilha. A agência de notícias alemã Deutsche Presse-Agentur afirmou que mais de 150 jornalistas estrangeiros tentando entrar em Cuba com visto de turista foram barrados no aeroporto de Havana desde que o governo anunciou que Fidel estava com hemorragia interna e teria de passar por uma cirurgia delicada. Em Cuba, jornalistas precisam ter visto de trabalho para exercerem a profissão legalmente.
O Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ) emitiu um comunicado pedindo que Cuba permita a entrada de jornalistas estrangeiros na ilha para "trabalhar sem ser perseguidos".
Silêncio na ilha
Onze anos à frente de uma agência de notícias independente do governo em Cuba é um feito para poucos. Mas Nancy Pérez-Crespo não teve uma trajetória fácil ao dedicar seu tempo à Nueva Prensa Cubana, agência sem fins lucrativos que conta com 21 jornalistas independentes baseados na ilha.
Com o futuro do país incerto devido ao quadro de saúde de Fidel Castro, o trabalho de Nancy ficou ainda mais frustrante. "Nada está sendo noticiado essa semana", afirmou. "Desde terça-feira tudo o que se sabe é que a população está calma, há muito silêncio e as tropas estão se movimentando."
O governo cubano sempre denunciou grupos como a Nueva Prensa Cubana como sendo frentes do governo americano, chamando os jornalistas colaboradores de mercenários e traidores. Vários jornalistas foram presos por colaborarem com inimigos do governo cubano. Há registros de que 25 deles cumprem penas de até 27 anos, segundo o CPJ. Nancy afirma que não recebe dinheiro do governo dos EUA. Para manter a agência conta com doações de amigos e associados, assim como de sua própria família.

sexta-feira, agosto 04, 2006

Vou querer um...

Os computadores do projeto One Laptop per Child chegarão às crianças beneficiadas já carregados com artigos selecionados do conteúdo da Wikipedia. A notícia foi divulgada hoje por Jimmy Wales, fundador da enciclopédia on-line, durante a Wikimania 2006, evento de três dias na Universidade de Harvard. "A missão do One Laptop per Child anda lado a lado com nossa meta de distribuir conhecimento sem custo para todas as pessoas do mundo, e nem todas as pessoas no mundo têm acesso a conexão banda larga" - declarou Wales.
Nicholas Negroponte, diretor do MIT (os livros desse cara me ajudaram muito no meu trabalho final do MBA), esteve no Brasil apresentando o projeto a Lula. A promessa é de que o governo brasileiro compraria pelo menos 100 mil unidades para escolas públicas. Se forem vendidos no varejo, acho que até eu vou querer um.

Varig, Varig, Varig

Meu tio, Dodô, trabalhou por mais de 40 anos na Varig. Era comissário de bordo. Com um excelente salário e aposentadoria do mesmo nível, Tio Dodô só não tem uma vida melhor ainda porque as muitas viagens mundo a fora também lhe apresentaram os cassinos, onde deixou muito dinheiro. Mesmo assim, a Varig proporcionou a ele uma velhice, no mínimo, digna.Lembro-me bem quando eu e meu irmão ainda éramos crianças e toda a vez que um avião cortava os céus, lá íamos nós. Corríamos de um lado para o outro, com os braços esticados para os lados, imitando aviões e gritando freneticamente:- Tio Dodô! Tio Dodô!Achávamos que todo avião era da Varig. E que nosso tio estaria em todo o vôo. E que nos ouviria!Sempre encontrávamos com o Tio Dodô nas férias. Além de algumas recordações das cidades por onde passava, ele sempre nos dava aqueles acessórios que a empresa fornecia aos passageiros em viagens mais longas. O que fazia mais sucesso era uma bolsa plástica, que acondicionava uma escova e uma pasta de dentes, bem pequenas; uma máscara de dormir e um chinelão de pano, todos devidamente identificados com o logotipo da Varig. Fazia o maior sucesso com os coleguinhas!- Nossa! O tio deles trabalha na Varig. Diziam eles com ar de admiração.Agora, anos depois, posso até contar essa história para a minha filha. Mas sem personagens muito convincentes. Tio Dodô, perto de completar 80 anos, não chama mais tanto a atenção como quando usava aquele uniforme azul, impecável. E, quem diria, os aviões da Varig não cortam mais os céus.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Reportagens on-line

Para a maioria dos repórteres que trabalham em redações jornalísticas a internet não passa de uma ferramenta para mandar emails e para fazer buscas. Mas os profissionais que atuam em sites de jornalismo on-line estão descobrindo que a rede é muito mais do que isto e estão sendo obrigados a agir de forma não convencional.
Uma das regras de ouro das redações tradicionais é o profissional fazer mistério sobre o que está investigando pensando num possível "furo". Mas os repórteres on-line e os blogueiros autônomos estão aprendendo que o segredo não é mais a alma do seu negócio, muito pelo contrário.
Quem faz jornalismo na Web começa a descobrir as vantagens de compartilhar com outras pessoas o seu projeto de investigação ou de reportagem, visando com isto recolher sugestões, contribuições e dicas. É a aplicação ao jornalismo do princípio da chamada Web social, ou Web 2.0, onde o valor de uma informação é dado pela intensidade da recombinação de sugestões oferecidas por leitores ou usuários.
Uma atividade profissional que sempre valorizou o individualismo e o sigilio, passa agora a depender da transparência e do coletivo para se desenvolver. Trata-se de uma mudança de valores e comportamentos bastante radical na vida dos jornalistas.
Os repórteres começam a descobrir como o uso de weblogs pode aproximá-los de seus leitores e prováveis colaboradores, da mesma forma que os editores se defrontam agora com desafios inéditos na sua capacidade de estabelecer o que interessará aos leitores.