sexta-feira, setembro 29, 2006

Consciência

Sempre fui contrário ao chamado "voto útil". Sempre optei por um voto que fosse de acordo com minha consciência. É o que eu chamo de "voto consciente".
É por isso que, no domingo, vou votar com minha consciência. Vou votar Cristovam Buarque - 12. Como ele, também acredito que o Brasil precisa de uma revolução. Mas uma revolução doce, que comece pelas crianças. Que comece pela Educação.

quarta-feira, setembro 27, 2006

Aloprados

Numa hora, o presidente-candidato Lula fustiga os "aloprados" do PT. Horas antes, esgoelou-se contra o "partidarismo da imprensa" apenas porque esta investiga as trapalhadas daqueles mesmos aloprados. Quem é aloprado? O que se pretende com este clima de desatinos?
Num discurso, o presidente-candidato apresenta-se como reencarnação de Jesus Cristo traído, em outro proclama que nenhuma denúncia [da imprensa] o impedirá de ganhar no primeiro turno. Mas as denúncias referem-se justamente àqueles que traíram Sua Excia...
Dane-se a coerência: o país virou um palanque amalucado onde a irracionalidade e a irresponsabilidade, em ritmo alucinado, promovem um dos mais lamentáveis espetáculos de vale-tudo eleitoral de todos os tempos.
Tática para confundir os adversários? Surto de esquizofrenia aguda? Ou apenas demagogia? Qualquer que seja o diagnóstico, o que não se pode admitir é a instalação de um clima delirante menos de uma semana antes daquele dia em que devem imperar a ponderação e o bom-senso.
Não se ameaça a democracia (ou, no caso, um dos seus esteios) às vésperas de eleições. Sobretudo quando um dos protagonistas, além de candidato, é também presidente da República – supremo magistrado, comandante em chefe das Forças Armadas, chefe do governo e da nação, encarregado de zelar pela tranqüilidade do processo político e pela harmonia institucional.


Alberto Dines

sábado, setembro 23, 2006

Leia!

O homem que trabalha, que minimamente ganha a vida, que leia! Leia em casa, no ônibus, no metrô. Leia naquela hora que os meios de comunicação devoram contando casos de polícia, bobagens incoerentes, mexericos e fatos muito menores, cuja confusão e abundância parecem feitas para aturdir e simplificar grosseiramente os espíritos.

Paul Valéry

Nem tudo se perdeu

A juíza Luzia do Socorro Silva dos Santos, da 4ª Vara Cível do fórum de Belém, rejeitou a ação de indenização por danos morais e materiais, cumulada com tutela inibitória e antecipatória, proposta por Ronaldo Maiorana, Ronaldo Maiorana Júnior e Delta Publicidade contra mim e o jornal Diário do Pará. Os donos do jornal O Liberal se consideraram ofendidos por matérias divulgadas pelo Diário sobre a agressão praticada por Ronaldo Maiorana contra mim, em 21 de janeiro do ano passado, no Parque da Residência, em Belém (PA). Além de cobrar indenização, pretendiam impedir que tanto eu quanto o jornal voltassem a fazer novas publicações sobre o assunto, considerado ofensivo.
A juíza acatou a preliminar de ilegitimidade passiva para figurar como réu na ação. Argumentei que não tinha responsabilidade sobre as matérias, publicadas por iniciativa do Diário do Pará, que noticiaram e repercutiram um fato testemunhado por dezenas de pessoas. Examinando o mérito da demanda quanto ao jornal, a magistrada concluiu que o Diário se limitou a transmitir ao público fato de efetivo interesse social, sem se configurar em abuso do direito de informação, sem a intenção de lesar a imagem de terceiros, "no exercício regular do direito de expressão e informação".
Quanto ao pedido de direito de resposta dos Maiorana, argumentou que eles não comprovaram que houve resistência do jornal à veiculação de sua versão sobre os fatos, nem recorreram à via judicial específica para exercê-lo. Sobre as tutelas requeridas, mostrou que impedir novas notícias a respeito seria praticar a censura prévia, proibida pela Constituição Federal.

Processo arquivado

Após a agressão, os Maiorana ajuizaram contra mim 13 ações no fórum de Belém, sendo nove criminais (com base na Lei de Imprensa, por alegada calúnia, injúria e difamação) e quatro cíveis, de indenização. Ainda estava em curso uma outra ação, de uma irmã de Ronaldo e Romulo, Rosângela, que é diretora da empresa. Ela pretende impedir o Jornal Pessoal, uma publicação quinzenal que acaba de completar 19 anos de circulação, de a ela se referir para sempre.
A ação decidida pela juíza Luzia dos Santos é uma das duas que tramitam na 4ª Vara. Há mais uma na 9ª e outra na 11ª Vara, ainda sem decisão. O processo instaurado contra Ronaldo pela agressão, a partir de denúncia do Ministério Público do Estado, com base em inquérito policial, foi arquivado. O agressor pagou uma multa de 15 mil reais e ficou livre.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Que mico!

Quem não viu o programa da Globo Esporte Espetacular na manhã de domingo (18/9) e leu o caderno de esportes do Globo na manhã de segunda-feira ficou besta com a manchete da página 2:

Ronaldo: "Quero dar um tiro na cabeça se não voltar a ser o nº 1"

Atacante, a quatro dias de completar 30 anos, mostra confiança no futuro

Que coisa chocante, pensou o leitor desavisado. "Esse rapaz está descompensado, precisa de tratamento urgente!"
Pois não era nada disso. Na mesa-redonda Arena Sportv, na mesma tarde, o apresentador Cleber Machado esclareceu a verdadeira frase do jogador: "Eu não tiro da cabeça que ainda vou voltar a ser o nº 1". Bem diferente, ufa! O redator do Globo que fez a transcrição da entrevista é que identificou uma disposição suicida no pobre rapaz...
Aliás, bem-comportadinho com o veículo co-irmão, Cleber Machado até tentou escapulir de identificar o protagonista do mico. "Os jornais entenderam mal...". Mas o comentarista Mário Jorge Guimarães não refrescou:
– Foi o Globo! Deu até manchete!

terça-feira, setembro 19, 2006

'Cabeças Cortadas' e 'Cidadão Kane'

Quis o destino que, no mesmo dia, estivessem programados "Cabeças Cortadas" (Canal Brasil, 23h35 de amanhã) e "Cidadão Kane" (Turner Classic Movies, 19h55 de amanhã). No primeiro, temos um Glauber Rocha um tanto deslocado (ou antes: um tanto exilado), com mais uma fábula terceiro-mundista. Os primeiros minutos de Fernando Rey são de arromba. O conjunto, um tanto confuso, o que é bem característico, aliás, do cinema dos anos 70.
Já "Kane", ao contrário, é o momento em que Orson Welles está com a corda toda: filmando em Hollywood com plenos poderes, numa época em que ninguém por lá tinha plenos poderes. São dois cineastas grandiosos, barrocos, eloquentes. E seus filmes são sempre necessários.
Num registro mais terra a terra, há "Lucia e o Sexo" (Telecine Cult, 22h de amanhã). Falaram-me um tempão dos encantos desse filme de Julio Medem. Só reconheci um: Paz Vega, que é mesmo uma gata. No mais, o filme fica naquela média detestável do cinema espanhol.

Negócio do momento (classificados)

Vendo dossiês. Amantes, maridos, mulheres, políticos e afins. A partir de R$ 1,99. Sigilo total (nem o presidente sabe). Ligue já: 0800-13-13.

quinta-feira, setembro 14, 2006

Miopia

Em sua coluna de hoje, Janio de Freitas critica que vários repórteres tenham ido ao evento montado para juízes pela Febraban em Comandatuba, na Bahia, mas só um, Fernando Rodrigues, da Folha, tenha estranhado e relatado a presença de 41 magistrados de tribunais superiores, assunto que deu pano para mangas. E Janio de Freitas conclui: “O silêncio voluntário é que é acusador, não a notícia”.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Sindicato x jornalista

Brasília acaba de acrescentar nova façanha ao seu extraordinário repertório de contorcionismos morais: o sindicato de jornalistas local, braço armado da Federação Nacional de Jornalistas, anunciou que vai processar este observador pelas opiniões aqui emitidas [ver remissões abaixo].
Todos os sindicatos de jornalistas de países democráticos fazem justamente o contrário: empenham-se em defender o inalienável direito dos profissionais de imprensa de manifestar livremente as suas opiniões. No Distrito Federal, de tanto lamber as botas do poder, o Sindicato dos Jornalistas, agora assumidamente um Sindicato Chapa Branca de Assessores de Imprensa, anunciou em nota oficial que vai processar um jornalista que ousou enfrentar o seu mandonismo e denunciou os seus graves desvios de conduta.
O stalinismo da diretoria da entidade não conseguiu manter-se enrustido. Desafiado por um jornalista que escreve o que pensa, sacou a pistola e soltou os cachorros do preconceito e da perfídia. Ressuscita a velha tradição totalitária dos sindicatos fascistas italianos no momento em que alguém ousa questionar o seu "centralismo democrático" e revela suas escusas jogadas políticas.
A diretoria do Sindicato dos Jornalistas do DF tem horror ao debate. Esconde-se no anonimato, escuda-se atrás dos logotipos. O longo convívio com os manda-chuvas viciou-a no uso das notas oficiais, ordens-de-serviço e comunicações internas.
Não foi casual a aproximação do SJPDF com o deputado-sanguessuga Pastor Amarildo (PSC-TO), padrinho da vergonhosa tentativa de regulamentação da profissão de jornalista, felizmente engavetada. Os jornalistas brasilienses não podem continuar submetidos aos interesses de um sindicato mais preocupado com os assessores de imprensa dos 600 legisladores que fazem parte do pior Congresso de todos os tempos.

Acima das trincheiras

Os escândalos que desde maio de 2005 maculam as instituições nacionais reclamam em Brasília a presença de um Sindicato de Jornalistas efetivamente jornalístico – íntegro, intransigente, independente, incapaz de compactuar com os ilícitos e os prevaricadores aninhados nas diversas esferas do poder.
O gigantesco conflito de interesses a céu aberto que o SJPDF tenta disfarçar com as suas falsas "solidariedades" é uma das mais graves deformações do processo jornalístico e midiático deste país. Parlamentares tornaram-se concessionários de emissoras de rádio e TV, controlam a mídia eletrônica, mas seus assessores filiados a um sindicato de jornalistas calam-se, cúmplices desta aberração.
A diretoria do SJPDF gosta de manifestações de rua, adora cartazes e palavras de ordem maniqueístas, mas tem erisipela quando se trata de encarar o contraditório. Escreve textos apócrifos porque jamais conviveu com o pluralismo. Seus nomes, conforme, afirma, "estão na página eletrônica". O nome dessa modalidade autoral, é covardia digital, emasculação eletrônica.
Jornalista que é jornalista escreve e assina embaixo, opina e responsabiliza-se, combate como pessoa física, obrigado a um mínimo de dignidade e galhardia.
Polêmica não é com a diretoria do SJPDF, simplesmente porque esta transformou a agremiação de jornalistas da capital federal (teoricamente a vanguarda da elite pensante do país) num lobby político, mesquinho grupo de pressão para favorecer interesses e jogadas – do sistema chinês de TV digital aos interesses sírio-iranianos para disseminar o ódio aos judeus em todos os quadrantes do mundo.
Tacanhos na forma e no conteúdo, toscos no estilo e na humanidade, ousam proclamar que desconfiam "de quem fica em mais de uma trincheira ou supostamente acima de todas as trincheiras". Pois o jornalista decente e íntegro deve lutar com todas as suas forças para manter-se acima de todas as trincheiras. Esta é a sua função, sua bandeira. É isso que a sociedade espera dos jornalistas.

segunda-feira, setembro 11, 2006

O melhor

Sempre gostei de Fórmula-1. Nelson Piquet sempre foi meu piloto preferido. Muitos o odiavam pelo seu temperamento, péssimo humor e, às vezes, até falta de educação. Na verdade, quando Piquet vestia a malaclava e se equipava com seu capacete vermelho-e-branco ficava completamente transtornado. Alucinado pela vitória. Ganhou três títulos mundiais numa época de pilotos tão geniais quanto ele.
Aí apareceu Senna. Um fenômeno. Protagonizou, ao lado de Piquet, a corrida mais fantástica até hoje da F-1. Um grande prêmio da Hungria, uma das pistas mais travadas da história onde, até na F-1 atual, as ultrapassagens acontecem apenas nos boxes. Mas Senna e Piquet, disputando curva a curva, conseguiam sucessivas aultrapassagens. A mais incrivel delas, entretanto, considerada até hoje a mais espatacular da categoria, coube à Piquet. Ultrapassou Senna na curva do final da reta, por fora, com o carro saindo nas quatro rodas, ao estilo piloto-louco-de kart. Incrível!
Essa foi, talvez, a passagem do cetro para Senna. E Senna soube muito bem reinar.
Talvez aquela ultrapassagem de Piquet tenha despertado em Senna o perfeccionismo que caminhou a seu lado durante toda a sua gloriosa carreira. O preferido dos brasileiros. O mais vencedor, o mais rápido de um povo que parece ter nascido com gasolina nas veias. Até os fãs de Piquet tinha que dar o braço a torcer. Senna suplantara o antes genial - e genioso - Nelson. E o mundo inteiro também se curvou ao brasileiro.
Muitos dizem que se Senna não tivesse morrido, Schumacher não seria 7 vezes - partindo para o oitavo título - campeão mundial. Não teria as incríveis 90 vitórias. E ainda estaria correndo atrás do recorde de poliposotions de Senna. Tamém acho. Pelo menos em partes. Talvez ele tivesse um ou dois títulos mundias a menos. Quem sabe até umas 15 ou 20 vitórias não lhe seriam computadas. Mas continuaria sendo Schumacher. A Fórmula-1 jamais verá uma performance como a do alemão. Como bati palmas para Senna, agora aplaudo Schumacher. O maior piloto de todos os tempos da Fórmula-1. Não era carismático como Senna, nem sangue-quente como Piquet. É frio. Calculista. E multicampeão. É o melhor.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Dica legal

Quer dar uma viajada ao redor do mundo? Mais legal ainda, se isso for possível lendo as primeras páginas de alguns dos principais jornais? Então acesse http://www.newseum.org/todaysfrontpages/flash/
Um programinha bem legal permite que você localize alguns jornais de vários continentes. Vale a pena.

Auto-Regulamentação de que?

Dois jornais do Rio dão hoje manchete sobre a tragédia que matou cinco jovens em acidente de trânsito ontem na Lagoa Rodrigo de Freitas, de madrugada, ao sair de uma boate.
O Jornal do Brasil fica no fato: "Acidente mata cinco jovens". A explicação para o destaque está no início do antetítulo: "Desastre na Lagoa..."
O Dia capta um contexto maior: "Acidentes matam 50 jovens por mês no Rio".
O Globo não dá manchete, mas dá alto de página: "Velocidade custa vida de 5 jovens na Lagoa".
Em todas as reportagens trabalha-se com a hipótese de que o motorista estivesse alcoolizado, o que é contestado por um jovem que havia passado a noite com o grupo na boate. Não importa se exatamente esse rapaz estava ou não alcoolizado. O fato é que muitos bebem muito mais do que seria razoável.
No Jornal do Brasil, o editor de Cidade, Gustavo de Almeida, pede em pequeno editorial a intensificação das campanhas contra a embriaguez no trânsito, também objeto de um boxe ao lado da reportagem principal.
Nenhum dos jornais questiona a mistura de jovens - em especial mulheres bonitas - e bebidas produzida e veiculada diariamente nas principais emissoras de televisão do país. É um assunto que o Conar, Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária, diz que enfrenta, mas não enfrenta.
Em reunião do hoje indolente Conselho de Comunicação Social (órgão auxiliar do Senado) em 6 de março deste ano, relatou-se a participação do psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, pouco mais de um ano antes, quando o CCS ainda era presidido pelo advogado José Paulo Cavalcanti Filho.
Laranjeira "destacou os danos que as bebidas alcoólicas causam à população brasileira, apontou o aumento do consumo e propôs um conjunto de medidas: a primeira é a restrição da propaganda do álcool; a segunda, é uma política de preços para os produtos, ´porque não existe país no mundo onde o preço do álcool seja mais barato do que no Brasil´; a terceira medida seria a implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbe a venda de bebidas alcoólicas para menores de idade; o quarto grupo de ações seria a implementação das restrições do beber e dirigir", diz a ata da reunião.


Três argumentos foram apresentados pelo médico:

“O primeiro aspecto que considero muito importante seria uma forma de regularmos o debate, a expressão da palavra, porque, como falei, quem tem dado as informações sobre álcool para a população brasileira, especialmente para os jovens, é a indústria do álcool.
O segundo argumento é que a propaganda influencia e educa principalmente os setores mais jovens da sociedade, para quem álcool significa festa. Falar contra o álcool – eu o faço e muitas vezes sou ridicularizado – é impopular. Impopular deveria ser falar que álcool é festa. O que dizer dos 4% de pessoas que morrem e dos 20% de famílias vitimadas pela violência doméstica por causa do álcool? É a mesma coisa, o mesmo fenômeno. Por tudo isso, faz sentido restringir a propaganda, porque educa da pior forma possível a consciência com relação ao álcool.
O terceiro aspecto é que a propaganda estimula o consumo. Quanto maior a exposição de propaganda aos adolescentes, maior o consumo. Isso é muito importante saber, principalmente num País onde o acesso à educação de saúde é tão restrito. Não se deve deixar uma geração de brasileiros exposta à propaganda do álcool".
Laranjeira noticiou a criação da Aliança Cidadã pelo Controle do Álcool e do site
Propaganda sem bebida. Por que a mídia não divulga regularmente esse endereço eletrônico?