sábado, janeiro 27, 2007

Leitura Crítica

É possivel acreditar em tudo o que os jornais, revistas, rádios e televisões publicam? A realidade indica que não. É necessário então descrer em tudo o que eles afirmam? O bom senso também sugere uma resposta negativa. Então o que o pobre do leitor pode fazer?
A resposta para este dilema está na expressão leitura crítica cuja importância aumenta na mesma proporção do crescimento da avalancha informativa gerada pela internet. Trata-se de desconfiar confiando, ou confiar desconfiando, uma atitude nova e perturbadora para a maioria esmagadora dos leitores, ouvintes, espectadores, navegadores e também para os jornalistas.
A leitura crítica é um conceito antigo e que era discutido até agora, apenas dentro dos ambientes universitários. Mas o aumento oceânico da informação disponibilizada pela internet acabou transformando-o numa ferramenta quase obrigatória na luta pela sobrevivência dentro da selva noticiosa na qual passamos a viver.
Até agora nós, os leitores, estávamos tranquilos porque acreditavamos piamente que a imprensa era quase infalível e que os seus integrantes eram profissionais vigilantes que zelavam pelas informações que nós tomavamos como base para decidir o que fazer. A tranquilidade foi quebrada quando descobrimos que a realidade não era bem esta não só por conta dos sucessivos escândalos envolvendo manipulação das informações como casos claros de fraude noticiosa.
Ai começamos a desconfiar, mas muitos resistiam, e ainda resistem, a ficar com um pé atrás porque isto equivalia a abandonar a sensação de que estavamos protegidos pelos profissionais da imprensa. A internet liberou uma avalancha informativa que nos confundiu ainda mais porque começamos a perceber que a realidade que nos era trazida pela imprensa era muito mais complexa do que o que saia, e ainda sai, publicado. Um mesmo processo, fenômeno ou fato passou a ser visto de muitas maneiras diferentes, abalando definitivamente nossas convicções e certezas.
Descobrimos que os jornais, revistas, radios, emissoras de TV e a própria internet eram incapazes de dar conta de toda a complexidade de fenômenos econômicos, politicos, sociais e culturais que afetam nossa rotina diária.
Foi aí que começamos a praticar a chamada leitura crítica, ou seja, ler, ouvir e ver com uma preocupação analítica, sem aceitar incodicionalmente o que nos é oferecido pela mídia. Sem rejeitar liminarmente o que é veiculado mas procurando descobrir todas as caras possíveis de um mesmo problema.
Trata-se de um proceso em curso que está mudando os hábitos e rotinas de leitura da maioria das pessoas. Els estão sendo obrigadas a assumir uma posição independente em relação a infomações que antes consumidas de forma absolutamente despreocupada.
Este fenômeno está ficando cada vez mais claro no terreno da política e da economia. As pessoas já sabem que os parlamentares tem seus próprios interesses, da mesma forma que as empresas tem os seus. Tanto um quanto o outro adotam um discurso do interesse público , mas os cidadãos já não se mostram tão receptivos como antes.
O fato novo é que agora estamos sendo levados a assumir esta leitura crítica da realidade de forma consciente e isto implica um conflito latente entre os veículos de comunicação e o seu público.
Nem todos os jornalistas aceitam este fato e suas consequências, porque a aceitação do principio da leitura critica e da falibilidade da informação jornalística implica o abandono de conceitos tradicionais e valores muito arraigados no quotidiano da imprensa contemporânea.
Os desafios diante de nós jornalistas, não são apenas tecnológicos e corporativos. São principalmente culturais.

sábado, janeiro 20, 2007

Cratera nas redações

De muitas maneiras, tudo começa e termina nas redações. Especialmente dos jornais. O acidente com a estação na Linha 4 do metrô de São Paulo é tipicamente uma dessas tragédias anunciadas, que só se consumam com a negligência continuada, entre elas a das redações de jornais.
Acidentes quase nunca são ocorrências lineares, resultado de um único fato, mas a somatória de um conjunto de situações – como costumam revelar as investigações de desastres aéreos.
Qual a colaboração da mídia, em particular dos jornais, no caso do metrô paulistano?
Num primeiro momento, desatenção no acompanhamento de uma obra executada numa área crítica – tanto em termos de geologia quanto de ocupação urbana – que vinha dando sinais de alerta. Num segundo, falha de discernimento envolvendo argumentos inaceitáveis apresentados pelas equipes técnicas do consórcio que executa das obras. Só quase uma semana depois do acidente é que o noticiário dos jornais atina com alguma lógica, envolvendo o que realmente deve estar por trás do desmoronamento do poço da estação do metrô, que engoliu veículos e pessoas como num terremoto localizado.
A culpa, afinal, será de são Pedro, ou são Guttenberg?.

Milícia fora do jornal

O presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, coronel da reserva da PM de Minas Gerais Severo Augusto da Silva Neto, disse em entrevista ao Observatório da Imprensa, ontem, que grandes traficantes já usam as chamadas milícias, no Rio de Janeiro, para vender drogas no varejo. A principal bandeira das milícias – denominação, por sinal dada pela mídia, conveniente para os velhos grupos de extermínio que agora dominam quase 100 favelas no Rio de Janeiro – é seu antagonismo aos traficantes de drogas, que são expulsos dessas áreas. Essa expulsão, obtida sem grande aparato bélico, seria a demonstração de que agir contra traficantes não é tão difícil quanto afirma a Polícia.
Mas o coronel aponta um paradoxo digno daqueles filmes policiais em que o “mocinho”, depois de liquidar os bandidos, foge com o dinheiro. Severo Augusto afirma que atacadistas de cocaína e maconha – eles os chama de “empreendedores” –, pragmaticamente, já usam as próprias milícias para distribuir seus produtos. Rei morto, rei posto. Em todas essas modalidades e etapas, integrantes da própria Polícia participam de atividades criminosas.
O especialista elogia a disposição demonstrada pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, de “fazer transformações na questão de segurança pública no Rio de Janeiro”. Ele defende a presença permanente da Polícia e de outros braços do Estado em favelas e comunidades pobres, não apenas incursões em situações de conflagração. Diz que as drogas sintéticas, vendidas fora dos morros, abocanham uma parte do mercado dos traficantes, o que cria novos perigos:
– Eles estão perdendo comércio. Por causa da droga sintética. Quem faz o comércio de droga sintética já não é mais a boca-de-fumo na favela. O traficante cada vez mais vai precisar vender crack, que é a Tubaína nas drogas, para a própria rede dele que vendia cocaína anteriormente, mas que não tinha dinheiro para comprar. Só que o crack deixa as pessoas cada vez mais violentas. É por isso que esses meninos descem do morro feito loucos... Para o traficante não é interessante tocar fogo no ônibus com gente dentro. Nós temos de nos preparar para enfrentar essa mudança de demanda, de mercado, mesmo.

São percepções e análises que ainda não apareceram no noticiário.

sábado, janeiro 13, 2007

Devolve o brinquedo, tio!

Vale por um bifão o comentário do diretor de programação da MTV, Zico Goes, ao revelar à Folha que a emissora recebeu mais de 50 mil mensagens de protesto contra a apresentadora Daniela Cicarelli depois do bloqueio do YouTube:
"Isso é mais uma gritaria juvenil porque um brinquedo foi tirado do que um sentimento contra a censura".
A palavra-chave, naturalmente, é "brinquedo".
Vai um abismo entre o uso da web como divertimento, sob qualquer de suas múltiplas formas, ao gosto de cada qual, mas quase sempre com doses cavalares de narcisismo, e como instrumento de democratização da informação e do debate público sobre questões de interesse coletivo.
O abismo é conceitual e quantitativo. Para cada upload que se enquadre nessa segunda categoria, há "inhentos" da outra.
Tudo bem. A vida é assim. Mais de meio século atrás, quando a televisão começou a ser nos Estados Unidos o que viria a ser no mundo inteiro, não faltou quem dissesse que o novo meio daria um impulso colossal à educação do povo americano, levando milhões de jovens e adultos a bater às portas das escolas superiores para saber mais.
Bobagem, comentou o sociólogo Seymour Martin Lipset, especialista em comunicação de massa. A preferência geral será pela Columbia Broadcasting System, a CBS, nunca pela Universidade Columbia.
Então que se divirtam. Mas não venham mistificar as coisas. Nem dar ao que fazem uma grandeza revolucionária. Aliás, o desonesto perfeito é aquele que, antes de enganar os outros, se engana a si mesmo – o que parece ser o caso dos que atribuem às novas mídias atributos que rebaixariam definitivamente para a terceira divisão a velha mídia impressa – vide a revista Time que escolheu o internauta da segunda geração (o da tal web 2.0) a Pessoa do Ano de 2006.

A mídia de Deus

O escândalo envolvendo o casal de bispos fundadores da Igreja Renascer é um prato muito apetitoso para a nossa mídia. Especialmente nesta entressafra noticiosa.
Não é todo o dia que se pode juntar num mesmo pacote religião, a polícia americana, uma Bíblia recheada de dólares, fortunas em Miami e um casal muito bem-sucedido na empreitada de enganar os crentes.
Na quarta-feira (10/1), o advogado dos "bispos" Hernandez definiu o noticiário como "calúnia" e acusou nossa imprensa de estar enganada. O noticiário está correto, as fontes são boas, a apreensão dos dólares ocorreu de fato, a dupla está evidentemente encalacrada. O que falta dizer ao distinto público é que não é a primeira vez que uma seita religiosa sediada no Brasil é pega em flagrante com um montão de dinheiro ilegal.
Em 2005, um jato da Igreja Universal do Reino de Deus foi apreendido pelas autoridades com uma fábula de dinheiro em malas e cuja origem nunca foi devidamente esclarecida. Acontece que a Igreja Universal, além de seita multinacional, é uma poderosa entidade política muito bem representada no Congresso e muito próxima do governo. E, como se não bastasse, domina um poderoso grupo de mídia eletrônica encabeçado pela Rede Record.
As trapalhadas fazem parte de um contexto infinitamente maior e, por isso mesmo, não podem ser vistas isoladamente.


Por Alberto Dines

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Cabral descobre o Rio

Existe algo de truque publicitário nas manifestações indignadas do governador Sérgio Cabral a respeito do péssimo funcionamento de serviços públicos no Rio, da segurança à saúde. Ele foi presidente da Assembléia Legislativa. E pertence ao PMDB, partido de Rosinha Garotinho, que o antecedeu no cargo. Mas a mídia repercute, imperturbável.